19.2.13

Sonho maluco









Tive um sonho maluco. Sonhei com um cara doido, cheio de cabelos. No começo parecia só uma cabeça que falava sem parar. Começava assuntos e não acabava, emendava outros. Tempos depois, retomava o primeiro com um link perfeito, articulado. Ritmo frenético, ritmo acelerado. Estava quase 100% escuro e eu não conseguia discernir o cenário.  De repente a luz começou a melhorar e essa cabeça cheia de cabelos e muito falante começou a evidenciar-se no topo de um corpo magro e alto. Vestia preto. 

Conforme a luz melhorava via-se ícones, desenhos, formas e até personagens, entre outras coisas menores, difíceis de entender, gravitando ao redor daquela figura que, se de boca fechada, pareceria tradicional, mas tantas eram as frases e assuntos e palavras soltas e discursos e músicas e poemas picotados e seilá mais o que que saia daquela boca, ficava claro que era uma figura diferente, meio bizarra até.

De tão estranho passou a ser atraente e num lapso ínfimo de tempo passou a querer me hipnotizar. Ainda tinha consciência, mas era tão intrigante que me deixei levar para tentar entender. Para experimentar. Aquela boca não parava de falar, os olhos penetravam os meus e as coisas todas que gravitavam ao redor, parecendo pedaços de sonhos de pessoas comuns, começaram a gravitar ao meu redor também. Estava no olho do furacão! Foi aí, que um cheiro delicioso de chocolate tomou conta e eu podia enxergar os doces em forma de rosquinhas saídos do forno chegando cada vez mais perto de mim. Delicioso, sensacional! Dunkin Donuts por todos os lados! Foi aí, na melhor parte, que o cara maluco que me hipnotizava, num gesto rápido, como o queimar de uma lâmpada, fez cair todos no chão, exceto um, que levava à minha boca. 

Fechei os olhos para degustar aquele doce que estava prestes a abocanhar, mas nessa hora, ele tirou de mim o melhor bocado. E fiquei sem nada. 

13.2.13

Coração de papelão no varal



Naquele dia ela lavou seu coração de papelão e o pendurou no varal, para secar. O céu estava azul e as ondas vibrantes de amor vindas de tantos lugares do mundo e de tantas dimensões paralelas perdidas entre o céu e a terra pareciam pairar sobre o varal. A brisa suave era quente, como maresia, e o coração de papelão deixava a umidade para tornar-se duro e seco. Que controverso para um coração! Mas era só assim que ele conseguia manter-se literalmente firme. Estava aprendendo a ser meio termo, por necessidade, mas o que gostava e sabia mesmo era ser flexível, derretido. Gostava de desfazer-se e fazer-se de novo. Gostava de virar escultura em papel marché. Pendurado no varal, o coração de papelão se preparava para passar mais um Valentine´s Day em perfeita elegância, sem desmerecer outros corações mais duros ou invejar os mais afortunados.