27.2.15

Quem abriu a porta?

Eu não sei qual foi a mágica. Acho que foi o seu abrir a porta confiante e lindo. Lembro que no segundo entre ‘porta fechada/você abrindo a porta’ eu virei do avesso. Minha curiosidade foi pro ralo, foi pisoteada e tomou um banho de sarro com risadas-malévolas-com-a-cabeça-para-trás internas subconscientes, que a desmoralizaram. Sobrou, ali, nua e crua, só uma vontade muda e totalmente ansiosa de ouvir o que ia dizer, quais gestos ia fazer, se seu sorriso seria pra mim ou de mim. 100% vulnerável em um segundo entre ‘porta fechada/você abrindo a porta’. Um segundo mudando minha percepção sobre você desde que te conheci há cinco meses: 1 segundo derrubando como efeito dominó os outros 14.671.800 segundos de certeza absoluta fail.

 E você abriu a porta. Foi imperceptível, mas lembro da minha expressão mudar - a boca entortou e, não me vi, mas tenho certeza que minhas pupilas dilataram enquanto um balãozinho imaginário de pensamento ocupou o espaço enorme entre minha cabeça e o teto: ‘Nossa, quem é ele? Quem é esse que abriu a porta?’. God save the pills, God save me.

Você não abriu a porta devagar, nem rápido. Você me abriu a porta e eu entrei. Sem movimentos calculados, sem pose. Você abriu a porta grande, aberto, tranquilo. Talvez a serenidade acompanhada de um Q de satisfação tenha me chamado a atenção... quer dizer, me desconsertado... quer dizer, me atraído... quer dizer... me virado no avesso como já disse. Entrei e você fechou a porta, mas eu não me lembro dessa parte. Segui em frente e me refugiei no sofá, que era obviamente macio e aconchegante. Eu sabia que podia contar com ele, eu sabia que ali eu sentiria o que de fato via e não teria mais surpresas avassaladoras. Errei. Você me invadiu no sofá e eu suspirei.

Perdida, sem ter mais para quem ou outro móvel a recorrer, olhei para a porta. Eu podia sair; eu queria sair? Não conseguia, estava do avesso. Fiquei. Fiquei e me entreguei ao deleite sem pensar duas vezes. Olhei pra você, uma cara conhecida em alguém totalmente novo. Uma risada conhecida que sempre gostei em um sorriso totalmente novo. Um homem bonito que sempre admirei, mas agora de forma totalmente nova. Dormi.

Ao acordar me refiz na medida que pude e saí pela metade. Vi você lindo, ainda quente de sono, e fui respirando rumo à bendita porta. Olhei pra maçaneta e, como que numa comédia romântica, meio sem graça, meio intimidada, percebi, enfim: quem abriu a porta fui eu.