4.12.13

Observações sobre a Reclamação

As pessoas reclamam. Eu sou pessoa e também reclamo, mas procuro reclamar temporalmente e não o tempo todo, na busca de não ser parte dos culpados em fazer dos minutos corredeiras de lamúrias e dos ouvidos dos outros latrinas. Ok, ok, reclamar é terapêutico muitas vezes, mas um engodo na maioria delas. Desabafo x inconveniência. Paradoxo diário dos que tem muito ou pouco a fazer, são alegres ou tristes por natureza, baixos ou altos, gordos ou magros, jovens ou velhos, ricos ou pobres, mas igualmente acordaram com o pé esquerdo naquele dia.

Há quem pule da cama ou se arraste pro chão depois do grito do despertador já de esquerda. Pé esquerdo, braço esquerdo, punho esquerdo cerrado pronto pra dar um direto - cruzado - direto em quem aparecer na frente. Esses, pobres, têm seus copos sempre meio vazios de tudo que é bom. Deixam o penico sob a cama por precaução e nunca estão satisfeitos. Estes são os que alimentam fofoca no corredor e têm seus cotovelos constantemente inchados e tomam remédios para tentar curar o vazio de seus estômagos e sofrem de dores de cabeças ocas.

Há quem reclama por ser maria-vai-com-as-outras. Nem queria reclamar, nem acha necessário, mas faz social com a reclamação. Eita tipinho maçante! Nem sua própria reclamação tem a capacidade de vomitar e reverbera achismos fúteis maldizendo o tempo, o trânsito, o tempero da comida que sequer provou. É o tipo que mais vejo por aí.

E há os que reclamam com coragem. Esses, por mais que sejam também chatos, são necessários e todos devemos encarná-los de vez em quando. São os reclamões justiceiros, os reclamões que defendem vítimas, opiniões, ideais, que querem metamorfosear o que está há tempo demais igual ou que funciona capenga. Esses reclamões podem mudar o mundo, como aquele que acreditava e bateu o pé, afirmando que a Terra girava em torno do sol ou aquele colega que usa caneca pra beber água no trabalho mesmo que todos - eu disse TODOS - usem copos descartáveis a cada golada de hora em hora.

Sou bipolar: não quero mais reclamar; quero reclamar.
Quero reclamar por clamores de construção. Quero ser do time dos reclamantes amantes de um mundo melhor, quero namorar o lado B da vida. Aquele que a gente esquece enquanto ouve alguém esperneando porque queria ganhar mais, fazendo menos, ou quando gastamos saliva e energia reclamando mesquinharias, ninharias, quando falamos bobagens sem distribuir música ou amor pro mundo.

20.9.13

Mergulhar








Tem dias que a gente se bloqueia. Bloqueia pensamentos, bloqueia ações, bloqueia até vontades. Somos maus com a gente mesmos. Decidi há tempos nunca mais fazer isso comigo mesma, mas (sempre) às vezes dá merda. Pior é que dou o poder a pessoas fazerem isso comigo. Sempre caio nessa. Semana retrasada, por exemplo, queria muito ter visto a corrida. Sabia que ia sobrar pro Vettel, mas queria ver o Alonso com a taça, achei que daria. Mal vi, estava bloqueada, não foquei. Semana passada, outro exemplo, me programei para arquitetar o projeto de um livro, algo que sonho há um bom tempo e sei que não é tão difícil assim realizar. Bloqueei, deixei de novo para depois. Ontem, mais um exemplo, me programei para fazer uma série de coisas para mim, mas me desorganizei e não fiz nada. Puro autoboicote em função de um bloqueio por medo do fracasso. 

Para quem está decidida a não permitir mais que isso aconteça, três exemplos em poucas linhas é muito. Às vezes detesto fazer terapia e entender essa coisa toda. Vou me dedicar mais a momentos relaxantes, como tomar sorvete, andar de bicicleta e ir urgente para a praia, só para conversar com o mar e ele levar minhas preocupações pro fundão. Lá ouso ir, e sempre volto mais leve. Preciso urgentemente mergulhar. E vou. Lá tudo é brilhante e cheio de surpresas: adoro!

Boca amarga




Acordou mais cedo que o usual, se vestiu com uma roupa não usual para trabalhar e foi até uma boa padaria tomar um café. Café preto mesmo. Expresso, forte, de máquina boa. Queria pedir ‘um café pra nós dois’, mas não tinha dois. Era uma, apenas ela. Pediu essência de baunilha, não tinha. Essência de avelã como segunda opção, também não tinha. Trufa? Não. Só tinha café. E forte. Grão do sul do estado. Topou uma xicarazinha. O café chegou cheiroso, vigoroso, mas estava amargo demais e não era falta de açúcar, talvez os grãos tivessem passado do ponto e tivessem queimado. Ia reclamar, mas um cara sentado próximo, que tomara o mesmo café, elogiou em bom tom e com propriedade: “o melhor café que já bebi em toda minha vida”. 

Para ela um exagero. Já havia provado muitos cafés de muitas cafeterias e o café daquela padaria não era o melhor do mundo nem a pau. Sorriu sozinha e decidiu não comentar nada. Na fila do caixa, a moça perguntou “aprovou o café?”. A pessoa de trás da fila achou que era com ela e respondeu apressadamente: “muito bom, uma delícia, super suave”. Ela não acreditou, mas desconfiou que, de repente, o problema era ela. Vai ver sua boca estava amarga demais. Ficou triste por alguns segundos e decidiu: a partir de agora, só chocolate. Quero doçura e não mais intensidade. Vou deixar o café para depois. 

Horas depois, percebeu uma machinha escura na blusa. Cheirou e as notas intensas e puras do café lhe encheram os pulmões. Já estava com saudades, uma saudade doída. Freud explicaria.

16.8.13

716 pedaços esquecidos de mim

Pássaros na corda bamba, uma das fotos nunca vistas


Acabo de encontrar 716 pedaços de mim que estavam perdidos e esquecidos. Ou melhor, 716 frames de memória deletados de minhas lembranças. Lembrei daquele filme fantástico Eternal Sunshine of the Spotless Mind (Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças) – pelo esquecimento em si. Foi surreal. 

Há dias minha mesa do trabalho está uma zona (pelo menos, há quem diga que mesa desorganizada estimula a criatividade) e hoje resolvi arrumar. Apesar de muitos papéis, publicações, pastas, utensílios de escritório, um cacto recém comprado, etc etc, já havia reparado num CD, sem capinha, literalmente abandonado no meio das coisas. Ia jogá-lo fora, sem nem ver o conteúdo, pois há uma semana peguei alguns CDs da gaveta em busca de algum virgem, para uma gravação e ele estava no meio, no maior relaxo. Todas as minhas mídias importantes estão etiquetadas e aquele CD largado não parecia nada meu. Ok. Por precaução e curiosidade (jamais conseguiria jogar fora sem checar) fui dar uma olhada. E lá estavam 716 fotos de uma viagem sensacional, que fiz numa época sensacional, com uma pessoa que, naquele momento, me era sensacional.  

Caraca! O pior não foi o susto de pensar “o que isso está fazendo aqui?”, mas o susto de ir passando as fotos e não me recordar de ter visto qualquer uma delas. Fui me lembrando dos momentos em que foram feitas a maioria, mas com absoluta convicção, afirmo, que nunca tinha visto nenhuma. Deu até um calafrio estranho, uma leve queda na pressão.
Vi nas propriedades das fotos que a viagem datava de dezembro de 2008 e, não por acaso, este mês deste ano foi um divisor de águas na minha vida. E por coincidência (ou não) há alguns meses venho pensando sobre minha vida pré e pós dezembro de 2008, nada a ver com a viagem e tal, mas com o que eu era, como eu vivia, o que eu fazia, o que eu pensava, o que eu prospectava pro meu futuro antes desse tempo e hoje.

Caceta! E veja só: antes de descobrir essa cápsula do tempo estranha havia trocado três micro mensagens com um amigo pelo whatsapp e ele me dizia de forma imperativa: “Liberte-se! Siga seus sonhos” e, na seqüência, minha mãe me liga, totalmente fora de hora, para perguntar “está tudo bem com você, filha? Te achei distante...”.

Muito doido tudo isso. Místicos diriam serem sinais de mudanças, entusiastas da neurolinguística apostariam na Lei da Atração, físicos me dariam aula da Teoria do Caos e supersticiosos me mandariam não pensar mais nisso, bater três vezes na madeira, fazer o sinal da cruz quando eu vir um gato preto, porque é tudo culpa do mês de agosto. Eu vou pensar a respeito e observar o mundo de olhos bem abertos, com a mente quieta e o coração tranqüilo, mesmo com a alma ressabiada.

Algumas das fotos...


Essa é minha preferida dentre as achadas. Seilá porque o blogger não me deixa virá-la.
 
Quem, em sã consciência, posa assim, tão cafona? #melhorei



Feliz. Acima e avante!

1.7.13

Manifesto legítimo

 
 
Nas últimas semanas ouvi muitas vezes o adjetivo "legítimo" sendo aplicado em diferentes contextos. Acho o verbo "legitimar" e os adjetivos "legítimo" e "legítima" muito bonitos, com som gostoso, refinado, firme e de significado extremamente valioso. Parei para pensar o quanto próximos da completude ficamos quando conquistamos sensações, amigos, amor, progresso, ascensão, bens, quando legítimos. Aliás o ideal seria que se não fosse legítimo, nem existisse.
 
Gosto de ter interesse legítimo no outro, admiro quem tem interesse legítimo, puro e de coração por suas causas, como tantos que vemos agora soltando a voz em manifestos em nosso País tão pobre de ideais legítimos. Aguardo por um amor legítimo que ande de mãos dadas comigo, rezo todas as noites e busco realizar o melhor que posso, todo santo dia, para que antes de morrer eu tenha oferecido a mais legítima vida, de corpo e alma ao mundo, e seja 100% agradecida por todas as oportunidades de legítimo (ou não) crescimento. E que, no final de tudo, quando Deus passar a régua na minha conta, eu vire paz. A paz de quem teve discernimento e sabedoria para legitimar uma vida inteira de feitos com humildade, respeito ao próximo e profunda gratidão. Espero que seja assim.

6.5.13

Felicidade é cumprir pequenos objetivos



Antes do fim de semana começar eu escrevi que estava com vontade de ir a um show para dançar, cantar e ‘energizar’ as pessoas ao redor com raios de música, disse que queria rir até a cintura doer, me reunir com bons amigos para comer e beber e ir ao cinema saindo de uma sala e entrando na outra. O domingo terminou 2h da madrugada, após duas sessões de cinema seguidas. No sábado, comi a melhor comida japonesa do mundo feita pela irmã e pelo cunhado especialmente pra nossa reunião de amigos  e na sexta me acabei com clássicos do rock, num showzinho de um pub. Ainda conheci gente nova e revi duas amigas adoravelmente doidas, ganhei beijos e abraços, comi pipoca, comprei novos óculos escuros.

A sensação de felicidade hoje, ao começar a semana foi incrível. Sinônimo de ser feliz é mesmo aquele clichê de vivenciar com intensidade as pequenas coisas da vida, mas é também a sensação de completude, quando concretizamos objetivos.  Delícia! Nada como acordar e pensar “que gostoso, vai começar tudo de novo!”. Cada dia é uma dádiva, basta optarmos à exclamação, não à interrogação insegura ou reticências preguiçosas. 

26.4.13

Um fantasma

Ontem a noite eu vi um fantasma. Ele não me assustou, nem perto de mim ficou. Mas me fez lembrar de dois tempos: um bom e outro ruim. Sai, fantasma, não me deixou dormir! Agora deixe-me ficar acordada sem pensar em você. As lembranças injustas me fitam e atormentam através de seus olhos azuis.

3.4.13

Desapegar do apego






O difícil não é esquecer, mas abrir mão do apego; o apego de pensar em como seria e lembrar do pouco que foi. É gostoso o apego a essas lembranças poucas  e às centenas de fagulhas de vivências que nunca existiram, mas são vivas, pois falam, cheiram bem e dão sensação de aconchego, pirilampando num universo fictício que gravita dentro da mente criativa e romântica da gente. Não é amor, é apego. É parecido, mas amor é real, é preciso ser experimentado, comprovado empiricamente. O apego é a vontade do amor. A vontade grande que ele exista e se faça material concreto. É o pré-amor, pode-se assim dizer, eu acho. Por isso é fácil esquecer o que não foi e difícil desapegar. É difícil dizer ao pré-amor: “Mas você já vai sem ter vindo? Eu tinha tantos planos pra você!”

Ahhh o apego! Esse “quase” amor que gravita em saltitância e elegância, como astronauta fazendo de nossa cabeça solo lunar. Passeia por entre nossos arquivos cerebrais, remexendo e perfumando as gavetas mais sérias, como nossa rotina profissional, com nossos afazeres diários organizados em ordem alfabética ou por ordem de exibição. As seis gotas de homeopatia pela manhã, a alimentação equilibrada, os exercícios pontuados da semana, o horário de início e fim do expediente, as idas e vindas pelas ruas, a cobrança pelos dois capítulos do livro por dia antes de dormir, a oração que precede o fechar dos olhos já com a mente leve no travesseiro. Ahhh, apego! Como é ruim deixar-te ir, sendo pré-amor do que não foi e poderia ter sido. Não acredito em reencarnação, mas se ela existir, na próxima prefiro vir nascida em janeiro para ser mais razão e menos coração. Prefiro vir em junho, para não ser tão fiel e persistente. Prefiro vir em  novembro para ser quase só carnal. Em outubro não quero vir mais. Os nascidos em outubro têm por meta comprovar o amor e abraçá-lo. É fantástico, mas cansa por todas as vidas.

1.4.13

1º de abril

No dia da mentira despeço-me de minhas não verdades. De minhas ilusões projetadas, de minhas verdades absolutas que vagam num céu cor de rosa. No dia da mentira dou um riso verdadeiro, mas que de tão aberto, parece falso. No dia da mentira contemplo e digo adeus a sonhos que não serão concretizados nunca, pois são feitos de papel marché e se desfazem na primeira chuva fina de outono. No dia da mentira pisco e ao abrir os olhos posso começar tudo de novo. No dia da mentira tudo é engraçado e parece que as mentiras tristes nunca existiram.

8.3.13

Pensando na gente



Nós mulheres somos fantásticas! Nascemos charmosas: ainda bebês crescemos em delicadeza e esperteza. Quando começamos a engatinhar já fazemos graça com os quadris ainda em fraldas e um pouco mais tarde rodamos nossas sainhas cor de rosa pela sala de casa. Todos se encantam com nossa fragilidade, com nosso riso aberto, com cachinhos ou franjinhas lisas emoldurando o rosto. Crescemos e continuamos iluminando o mundo. Adolescentes, brigamos por idéias, construímos amizades, abrimos o coração para amores, descobrimos como é difícil tomar conta de nós mesmas, mas perseveramos e perseguimos sonhos.
Adultas, nos dividimos em várias! Somos amantes, amigas, filhas, netas, mães, profissionais, esposas, namoradas, médicas, loucas e com sorte, somos ainda molecas. Quando envelhecemos retomamos a meiguice da infância e acumulamos nos gestos lentos e olhar penetrante toda nossa vivência. Na velhice temos a criança carinhosa, a adolescente mimada, a adulta atribulada e a calma que a experiência traz.
Como é bom ser mulher e saber que todas as etapas da vida são especiais. Como é bom ser mulher e sendo atleta ou educadora, comerciante ou enfermeira, empresária ou dona de casa, passamos um batom e ao piscar os olhos, conseguimos amenizar os problemas de todo um mundo. E basta um beijo para devolver a crença dos já sem fé. Parabéns para nós! Dia 8 ou dia 1 ou 31 de qualquer mês.

19.2.13

Sonho maluco









Tive um sonho maluco. Sonhei com um cara doido, cheio de cabelos. No começo parecia só uma cabeça que falava sem parar. Começava assuntos e não acabava, emendava outros. Tempos depois, retomava o primeiro com um link perfeito, articulado. Ritmo frenético, ritmo acelerado. Estava quase 100% escuro e eu não conseguia discernir o cenário.  De repente a luz começou a melhorar e essa cabeça cheia de cabelos e muito falante começou a evidenciar-se no topo de um corpo magro e alto. Vestia preto. 

Conforme a luz melhorava via-se ícones, desenhos, formas e até personagens, entre outras coisas menores, difíceis de entender, gravitando ao redor daquela figura que, se de boca fechada, pareceria tradicional, mas tantas eram as frases e assuntos e palavras soltas e discursos e músicas e poemas picotados e seilá mais o que que saia daquela boca, ficava claro que era uma figura diferente, meio bizarra até.

De tão estranho passou a ser atraente e num lapso ínfimo de tempo passou a querer me hipnotizar. Ainda tinha consciência, mas era tão intrigante que me deixei levar para tentar entender. Para experimentar. Aquela boca não parava de falar, os olhos penetravam os meus e as coisas todas que gravitavam ao redor, parecendo pedaços de sonhos de pessoas comuns, começaram a gravitar ao meu redor também. Estava no olho do furacão! Foi aí, que um cheiro delicioso de chocolate tomou conta e eu podia enxergar os doces em forma de rosquinhas saídos do forno chegando cada vez mais perto de mim. Delicioso, sensacional! Dunkin Donuts por todos os lados! Foi aí, na melhor parte, que o cara maluco que me hipnotizava, num gesto rápido, como o queimar de uma lâmpada, fez cair todos no chão, exceto um, que levava à minha boca. 

Fechei os olhos para degustar aquele doce que estava prestes a abocanhar, mas nessa hora, ele tirou de mim o melhor bocado. E fiquei sem nada.