26.4.13

Um fantasma

Ontem a noite eu vi um fantasma. Ele não me assustou, nem perto de mim ficou. Mas me fez lembrar de dois tempos: um bom e outro ruim. Sai, fantasma, não me deixou dormir! Agora deixe-me ficar acordada sem pensar em você. As lembranças injustas me fitam e atormentam através de seus olhos azuis.

3.4.13

Desapegar do apego






O difícil não é esquecer, mas abrir mão do apego; o apego de pensar em como seria e lembrar do pouco que foi. É gostoso o apego a essas lembranças poucas  e às centenas de fagulhas de vivências que nunca existiram, mas são vivas, pois falam, cheiram bem e dão sensação de aconchego, pirilampando num universo fictício que gravita dentro da mente criativa e romântica da gente. Não é amor, é apego. É parecido, mas amor é real, é preciso ser experimentado, comprovado empiricamente. O apego é a vontade do amor. A vontade grande que ele exista e se faça material concreto. É o pré-amor, pode-se assim dizer, eu acho. Por isso é fácil esquecer o que não foi e difícil desapegar. É difícil dizer ao pré-amor: “Mas você já vai sem ter vindo? Eu tinha tantos planos pra você!”

Ahhh o apego! Esse “quase” amor que gravita em saltitância e elegância, como astronauta fazendo de nossa cabeça solo lunar. Passeia por entre nossos arquivos cerebrais, remexendo e perfumando as gavetas mais sérias, como nossa rotina profissional, com nossos afazeres diários organizados em ordem alfabética ou por ordem de exibição. As seis gotas de homeopatia pela manhã, a alimentação equilibrada, os exercícios pontuados da semana, o horário de início e fim do expediente, as idas e vindas pelas ruas, a cobrança pelos dois capítulos do livro por dia antes de dormir, a oração que precede o fechar dos olhos já com a mente leve no travesseiro. Ahhh, apego! Como é ruim deixar-te ir, sendo pré-amor do que não foi e poderia ter sido. Não acredito em reencarnação, mas se ela existir, na próxima prefiro vir nascida em janeiro para ser mais razão e menos coração. Prefiro vir em junho, para não ser tão fiel e persistente. Prefiro vir em  novembro para ser quase só carnal. Em outubro não quero vir mais. Os nascidos em outubro têm por meta comprovar o amor e abraçá-lo. É fantástico, mas cansa por todas as vidas.

1.4.13

1º de abril

No dia da mentira despeço-me de minhas não verdades. De minhas ilusões projetadas, de minhas verdades absolutas que vagam num céu cor de rosa. No dia da mentira dou um riso verdadeiro, mas que de tão aberto, parece falso. No dia da mentira contemplo e digo adeus a sonhos que não serão concretizados nunca, pois são feitos de papel marché e se desfazem na primeira chuva fina de outono. No dia da mentira pisco e ao abrir os olhos posso começar tudo de novo. No dia da mentira tudo é engraçado e parece que as mentiras tristes nunca existiram.