29.11.07

Sexta infame com tudo!



Me confessa... óbvio que você já sentiu uma orquestra de anjos tocando no seu coração, vai! vávává!

Essa música é incrível, inacreditável...
O comecinho é intraduzível... um "La da di da-da da-da da / Da-da da-da / La da di da-da da-da da" poético por demás! Número 5 num novo CD que deixo no carro...

Assista ao clipe e contemple esta bela obra dos anos 80. A corte é um sarro, mas o meu destaque fica pro back gordinho (nada contra, vê a cara dele) que estréia aos 1'01'' e faz entradinhas surpresas... e, claro, pra piscadela final! Sensacional!
Ah! tem um moleque tocando gaita também, enquanto outros voam (claro, são anjos!)

Boa sexta!

Must Be Talkin' To An Angel
Eurythmics

La da di da-da da-da da
Da-da da-da
La da di da-da da-da da
Da-da da-da, yeah

Main:
No one on earth could feel like this
I'm thrown and overblown with bliss
There must be an angel
Playin' with my heart, yeah

I walk in to an empty room
And suddenly my heart goes BOOM
It's an orchestra of angels
And they're playin' with my heart, yeah

Chorus:
Must be talkin' to an angel

Main

And when I think that I'm alone
It seems there's more of us at home
It's a multitude of angels
And they're playin' with my heart, yeah

Chorus

Bridge:
I must be hallucinating
Watching angels celebrating
Could this be reactivating?
All me senses dislocating?
This must be a strange deception
By celestial intervention
Leavin' me the recollection
Of your heavenly collection

(Instrumental)

Chorus repeats until fade

uma cena e uma música qualquer

Ela resolveu passear na velha Maria Fumaça que o avô a levara quando era criança e os pedacinhos de carvão trazidos pelo vento, junto com a fumaça pra dentro do trem, queimaram seu conjunto de shorts e blusa vermelho de bolinhas brancas, feito pela avó. Sozinha, debruçada na janela antiga com tinta verde descascada, ele sorri pensando como é bonito ver os trilhos serem cobertos pelos vagões. De repente, uma música, que nunca havia reparado, começa a tocar nas velhas caixas de som que reproduziam o chiado mais magnífico que já tinha ouvido. É Palavras e Silêncio. Pensa por instantes que Fagner é terrível e que o dueto com Zeca Baleiro é irrelevante. Só que o violão a enfeitiça, a música navega em suas veias em barquinhos de papel dobradura e ela acaba tomando cada verso em aviõezinhos de colheradas. Volta para a poltrona, só apóia uma das mãos no peitoril da janelinha e mira o horizonte. O sol está se escondendo atrás de duas montanhas, como naqueles desenhos feitos com giz de cera. Começa a pensar na vida, desde que o carvão queimou o shorts, o mesmo da foto que ela está numa praia, morrendo de medo, posando de bonezinho sobre um pobre e mirrado pônei. Lembra de muitas das palavras não ditas e de muitos silêncios cheios de significado. Recorda-se de grandes pequenas conquistas e de todos os seus amores. Tenta fazer uma listinha, desde o menininho da festa junina da escolinha. Refaz velhas perguntas, “será que se eu tivesse feito tal coisa seria diferente?”, “será que se eu não tivesse feito seria?”, “será que fiz tudo que pude?”, “será que eu estou fazendo a coisa certa?”. Suas palavras se perdem na brisa do cair da tarde e suas dúvidas na única certeza de que tem: talvez nunca tenha respostas. Muda o foco, lembra dos olhos verdes clarinhos do avô, que a diabetes escureceu, do abraço forte do outro, que ainda pode sentir. Da avó que completou 80 anos cheia de energia, mesmo fumando feito a chaminé do trem e da outra, que vive procurando novas doenças e remédios para ter um pouco mais de atenção, e que, baixinha, cabe embaixo do braço dela. Percebe que os exemplos são doces e que, polindo cada parte do que tem, poderá ficar velha com dignidade. Na Maria Fumaça, reviveu seu passado, analisou seu presente e decidiu seu futuro. Os medos voaram pra traz da locomotiva, que apitou só quando chegou na estação.

certezas e incerteza

- Vou rir demais quando for tomar banho en el baño compartido do primeiro hostel que eu for ficar mês que vem, pois vou lembrar da cara de nojo da minha irmã, dizendo "vamos levar só sabonete líquido";
- Vou rir pra sempre, toda vez que lembrar da amiga trêbada, chacoalhando uma caixa de presente enorme e gritando "é um cinzeiro!";
- Meus olhos vão brilhar cada vez que meu coração me apontar alguém interessante;
- Meus olhos vão brilhar cada vez que eu lembrar de todas as lendas e contos de fada que já vivi, sendo princesa, bruxa ou gata borralheira;
- Vou gaguejar cada vez que mentir pra minha mãe e praguejar pessoas que tratam as outras mal ou chutam o cachorro;
- Vou chorar um choro de sorrisos quando for abraçar a Vivi de noiva, no próximo dia 15, exatamente o mesmo de quando abracei a Ju, em 30 de julho;
- Vou chorar um choro morno e feliz quando conhecer a Torre Eifel, exatamente o mesmo da minha primeira aula no laboratório fotográfico em 2000, quando a imagem começou a aparecer, "do nada", bem nos meus olhos (por dentro e por fora).

...o resto, só Deus sabe.
Como é que é que ele disse mesmo? "Navegar é preciso, viver não é preciso". Isso, foi isso mesmo.

27.11.07

quando a moça desidratada saiu correndo e voltou


Não teve dúvida. Saiu correndo sem nem bater a porta, largou aberta. Enquanto corria, lembrou do filme “Corra, Lola, corra”, mas sabia que não dava para ficar indo e voltando a cena. Só parou de correr quando torceu o pé várias quadras pra frente. Por sorte, o bairro tímido tinha muitas casas e algumas ofereciam degraus para a calçada. Sentou. Tirou o tênis e percebeu o pé inchando. A dor da torção era bem menor que a de seu coração oprimido. Ele tinha sido torcido e retorcido por meses a fio e já nem tinha mais a forma de uma mão com os dedos presos na palma, estava meio disforme, meio mulambento. Começou a chorar, mas sabia que não ia lavar a alma como acontece nos filmes. Sabia que o chorar descontrolado era apenas um desabafo à galope, um alívio morno. Efeito placebo. Mesmo assim não conseguia controlar o fluxo das lágrimas que rolavam sem vergonha de estar à céu aberto e que saiam dos olhos deixando a cabeça mais oca e propícia a uma bela dor de cabeça.

Chorou até a dor do pé e do coração parecerem pequenas. Até todas as dores acumuladas parecerem se esconder por detrás dos olhos mareados, cujas pupilas nadavam sem rumo num mar finito, mas fundo e revolto demais. Quando as pálpebras se cansaram de ficar apertadas demais, ergueu a cabeça (que já comportava um turbilhão de alfinetes que se movimentavam em ritmo acelerado), e decidiu limpar o rosto. As lágrimas haviam descido queixo abaixo e molhado todo seu colo. O gosto estava vívido nos lábios. Lembrou que quando era criança percebeu que “lágrima é igual a soro caseiro”, mas o resultado não era o mesmo, a lágrima não recompunha, não acabava com a desidratação daquele corpo maltratado pela falta de doses líquidas de carinho. Cansada, olhou pra rua vazia e acompanhou os poucos carros que passaram por ela, sem sentir sua permanência triste naqueles degraus. Levantou, saiu mancando. Teria que caminhar bastante e o tênis não cabia no pé. Foi descalça sentindo o asfalto quente. Tinha deixado a porta aberta e precisava fechar.

...

Do elevador, ouviu a música vindo do apê...

26.11.07

quando a menininha percebeu que não era tão pequena


Era uma vez uma menininha bem pequena. Ela era minúscula. Um dia ela abriu os olhos e viu o mundo diferente. Conheceu os passarinhos, as borboletas, os pernilongos, as formigas, as pulgas, e viu que era enorme. Um dia a menininha bem pequena percebeu que não é preciso usar salto pra ser grande e nem subir no alto de um prédio e gritar. Para quem está no chão, o tamanho das pessoas que pulam de pára-quedas é o mesmo. Na imensidão do céu, são todas fadas Sininho sem a mesma graça da personagem da história, mas livres e apenas com a força da gravidade nas costas.

(imagem ''Pulga'', de www.weno.com.br)

24.11.07

O dono do sorriso monaliso

Não ouve bem
(repete propostas indecorosas mesmo depois de nãos consecutivos)
O olfato não é aquelas coisas
Em conseqüência o paladar vai mal
Sobrou ser mestre no tato
Já que não vê todas as cores
Mesmo assim
Deu de presente luzes de Natal e de uma cidade inteira
É estratégico,
É terrível,
Mas não deve ser tanto.

22.11.07

!!SEXTA!!



Sextaaaaaaa! Exatamente! E pra você ficar ainda mais feliz, música boa: Superbus! Queria "Un peu de Douleur", mas só achei gravações de shows ao vivo e estão horríveis... baixa, vale a pena. Taí o clip "Lola"...


21.11.07

fica sempre um pouco de perfume

Adora dar presente. Quando conhece alguém legal e divide alguma intimidade, dá um jeitinho de presentear. Nada caro, não é esse o ponto. É a lembrança, a demonstração de afeto; um sorriso carinhoso em forma de pacotinho embrulhado. Pode ser um bombom, um lápis, um bloquinho, uma pedra do lugar X, uma cocha da praia Y, uma bolacha de cerveja do bar Z. Pode ser também um verso. Quando está com alguém então, apaixonada, a vontade de comprar coisinhas sem muito sentido racional aumenta e dinheiro de pinga vira poesia. Em datas comemorativas a mania piora, beira a doença, um fascínio, quase fixação. Também gosta de ganhar (Freud diria que é projeção) esses pequenos presentes. Lembra de cinco que recebeu na mesma linha: um peso de papel cafona, uma cestinha de vime com três cachorrinhos de resina quase ridículos, um porta-caneta escrito “Feliz Aniversário”, num mês distante do dela, uma camiseta que levou dias para ter bordado um coração nas cores do Brasil e uma violeta de plástico. Quando pensa nisso se enche de alegria. Para ser feliz, basta uma fita escolhida a dedo, mesmo que não envolva nenhum pacote. De preferência, de surpresa, num dia qualquer.

20.11.07

Um Rodrigo qualquer

Era uma vez um Rodrigo como todos os outros. Como todos os outros, era safado, bonitão, tinha um certo charme, e gastava dinheiro à rodo. Não, não era fútil. Ele não gostava de economias, só isso. Ganhava bem, ia viajar direto e tinha amigas e amantes por todos os lados. Também tinha muitos amigos. Amigos de bar, de balada, de trabalho, da academia, da ong que freqüentava voluntariamente para agradar a vizinha-avião. Não sabia ir ao cinema e ficar de mãos dadas, mas era mestre em dançar forró e dar amassos em cantos retirados. Era um Rodrigo, como já dito.

Um dia o Rodrigo descontrolou e engordou no mesmo período em que bateu o carro, ficou à pé e o barbeador pifou. Desacostumado com o peso, não conseguiu mais praticar esportes. Tentou, ele tentou. Mas, seilá o motivo, não emagrecia. O carro ficou dois meses na oficina e a barba cresceu até ficar como a do Tom Hanks, em O Náufrago. O sonho de viver sob uma redoma de vidro, como naqueles filmes futuristas, numa praia particular jogando vôlei com os melhores amigos e as meninas mais gostosas do mundo ia por água abaixo. Não conseguia mais imaginar, não conseguia sonhar, não conseguia se olhar no espelho.

Aí, o Rodrigo como todos os Rodrigos fez algo diferente e chorou. Lavou a alma, mas não se conformou. Arregaçou as mangas e saiu por aí correndo. Dizem que o Forest Gump é inspiração. Dizem que agora consola as mais feias. Dizem que virou lenda urbana. Dizem que mora no prédio ao lado. Dizem que encontrou um emprego pífio e conserta relógios de ponto de empresas falidas. Dizem que fez lipo e virou o Gianecchini. Dizem que é piada, e é o Maradona. Dizem que nunca existiu.

quando eu morrer

Vai demorar
Mas quando eu morrer
Não vá me ver no cemitério
Eu não estarei lá

É,
Vai demorar
E quando eu morrer
Não faça velório longo
Não gaste lencinhos de folhas duplas
Nem com caixão requintado
Dinheiro jogado fora

Quando eu morrer
Enterra logo o que sobrou
Coloca a plaquinha com minha foto na melhor fase
Faz uma oração
Canta uma música bem alto
E lembra das besteiras que eu falei em vida

Quando eu morrer
Assim que acontecer
Vou voar pra bem longe
E você vai me ouvir rindo com o vento
Mas vai demorar
Ainda tenho muito amor pra distribuir
e muito paralelepípedo pra tropeçar

13.11.07

descendo

assim,
quando eu penso em não pensar mais em você
é mais um motivo para eu continuar pensando
como bêbado que pede a saideira
pra continuar bebendo
como músico que sai do palco
e volta correndo pro bis.

assim,
decidi optar por fazer de meus próximos passos
um descer a ladeira
é, eu só desço
não dá pra voltar
é íngreme demais
e estou sem roupa apropriada para escalar montanha alguma

só desço
pra descer, todo santo ajuda
desço sem brecar com os joelhos
e coloquei um imobilizador de pescoço
(não se preocupa, é de material leve e posso transpirar tranqüila que não coça)
desço sem olhar pra trás
torcicolo de amor é o que mais dói.

podia passar batido...

1 – Posso morar no meu carro, de tanta coisa que tem lá dentro

2 - Fanta com manga é ruim, mesmo eu jurando que tudo com manga seja excelente

3 - Barba valoriza quase todos os homens

4 - Nem um circo merece mulheres barbadas

5 - Almocei um canelone mole demais e jantei uma carne dura demais

6 - Já furei a meta da semana, “chocolate, por hoje não”, três vezes, sem contar os Toddys que bebi

7 – números 4 e 5 associados podem causar estragos... será que já estão????

8 - Tinha uma placa verde de fungo na água de uma panela largada na pia que usei ontem (e este fato irá mudar a rotina de eu abrir a conta de gás e encontrar, três meses seguidos, o valor de R$ 0,00 no campo a pagar)

9 - Pastas de dente que prometem deixar os dentes branquinhos mentem

10 - Patê da Sadia, naquelas bisnaguinhas, são nojentinhos, mas bons pra caramba

11 - É impossível mandar um vídeo de 954 MB por e-mail e zippar é uma tentativa mais ridícula ainda

12 - (por e-mail)
“Você viu? Ninguém contou que todos ali vão assinar um voto de pobreza ao pegar o canudo, né?! Jornalismo foi recorde da Fuvest...”

13 - (no trabalho)
“É simples o que a gente precisa, o pessoal de sistemas não vai ter trabalho. É só mudar o banco de dados, incluir uns itens no cadastro, trocar o banco do boleto e fazer uma interface com um outro sistema de outro departamento (humm, não sei o nome agora). Dá pra esse mês ainda, né?!”

14 - (na academia)
“Esses dias marcados são os que você não veio, certo? NÃO!?!?!?!?!”

15 - (ainda lá, minutos depois)
Thais no abdutor, três pessoas em coro, num gesto motivacional:
“Shortinho! Shortinho! Shortinho!”

16 - (hoje, pela última vez em determinada manicure)
“Trocou de carro é? É fléquixxí? Ele anda com tudo, né, com óleo também?”

Com dois finais

- dizem que vivemos reescrevendo nossa história... eu reescrevo este post de março, mas com um final novembro...


Não há cura para o nascimento e a morte, a não ser usufruir o intervalo (George Santayana)


I want so much to open your eyes
´Cause I need you to look into mine


Este verso é, sem dúvida, o mais bonito da minha trilha sonora do último carnaval, a “Open your eyes”, do Snow Patrol. Apesar de ela estar virando modinha – e isso muito me irritar – continuo ouvindo e me sentindo muito bem. Outro dia viajei na letra e, hoje, apenas neste verso.

Uma das coisas mais deliciosas, que une o melhor das sensações emocionais e físicas, é o abrir dos olhos após um beijo. Não um beijo qualquer. Mas um beijo demorado, longo, apaixonado e, claro, firme. Nada daquela coisa morna, como muitos apertos de mão que não envolvem as duas participantes e, pior, quase não se sentem os dedos do outro, de tão leve e inexpressivo. Quase fingido.

1 - Queria que uma barreira invisível, mas altamente real, não me circundasse mais e eu conseguisse sentir essa sensação novamente: da completude ao open my eyes. But, now, I can’t to look to anyone. Not cause I´m alone, but cause I can’t open my heart. (março 2007)

Enquanto isso, o intervalo é menos saboroso.

2 - Queria que uma barreira invisível, mas altamente real, não circundasse aquele que eu escolhi para sentir essa sensação novamente: da completude ao open my eyes. Now, I can’t look to him. The guy that I want can’t open his heart. (novembro 2007)

Enquanto isso, o intervalo é menos saboroso.

8.11.07

em português...



A primeira vez que ouvi a música pensei: eu queria ter escrito esta letra!
Lindinha... Cordel é legal. Pra ficar melhor, só se tivesse Los Hermanos junto, fzendo um som tipo repente. E de alguma forma eles infiariam "Eu sei é um doce te amar/O amargo é querer-te pra mim" no meio...

(a música é trilha de Lisbela e o Prisioneiro)

ininglix

Um poema:

i like my body when it is with your

i like my body when it is with your
body. It is so quite a new thing.
Muscles better and nerves more.
i like your body. i like what it does,
i like its hows. i like to feel the spine
of your body and its bones, and the trembling
-firm-smooth ness and which i will
again and again and again
kiss, i like kissing this and that of you,
i like,, slowly stroking the, shocking fuzz
of your electric fur, and what-is-it comes
over parting flesh . . . . And eyes big Love-crumbs,

and possibly i like the thrill
of under me you quite so new


Um refrão:

Every minute from this minute now
We can do what we like anywhere
I want so much to open your eyes
´Cause I need you to look into mine


Uma estrofe:

My life
You electrify my life
Lets conspire to ignite
All the souls that would die just to feel alive

Breve triste conto sobre a Juju chata

Seu nome era Julieta, mas o apelido era Juju. Detestava as piadas que faziam referência à amada de Romeu. Seu nome era um problema e isso interferia no relacionamento. Os pretendentes inventavam apelidos carinhosos e acabava sendo pior. O primeiro a chamava de “sereia”; ela o mandou pra cucuia. O segundo de “Jujusão”, no começo achava legal, depois começou a se irritar com o aumentativo e deu uma desculpa qualquer para terminar. O terceiro, logo que usou o clichê piegas e cafona “minha princesa”, ficou no vácuo e nunca mais ouviu falar dela. O quarto, mais esperto, perguntou antes: “Jujuzinha? Jujuba? Jugi? Pequena? Lindinha? Fofa?”. Ela o achou interrogativo demais e desencanou. Depois do primeiro encontro, o quinto a olhou nos olhos, envolveu seu corpo num abraço feito com o corpo todo, a beijou e disse: “até mais, minha vida”. Ela estremeceu. As bochechas rosaram. O coração acelerou e seus pés saíram do chão. Ela quis confirmar: “você me chamou de quê?”. Ele repetiu “de minha vida”. Pronto. Era ele, o quinto elemento. Dia seguinte esperou a ligação e nada. No outro dia também. E no outro, e no outro. E no outro, e assim foi. Ela levou a sério, entregou a vida a ele, ficou sem e aguarda que ele devolva. Mas o rapaz anda roubando mais algumas por aí e não prometeu voltar. As vizinhas dão risada e gritam em coro: "bem feito, Juju chata!"

metade inteira


Tem dois mini puffs na sala, para apoiar os pés. Usa os dois, um para cada perna, sem necessidade, claro, mas tira os dois que ficam embaixo do móvelzinho que separa a sala de estar da de jantar e os usa. Tem um sofá de dois lugares. Senta de um jeito que fica meio no meio e se esparrama pelos assentos. A mesa de jantar é pequena, mas tem quatro lugares. O ideal é retirar duas das cadeiras e duas pessoas jantarem juntas, uma de frente pra outra. Outro dia descobriu que se encostar a peça na parede e diminuir três cadeiras fica com uma boa área útil para si só.

A cozinha tem um tamanho bom e no armário existem muitas panelas, que não podem ser usadas no microondas, que fica do lado oposto do fogão. Só usa o micro. Se soubesse cozinhar ou não soubesse, mas ao menos tivesse o hábito de esquentar sanduíches para o queijo derreter, poderia usar o forno. Está lá à disposição.

O banheiro não é grande, mas cabem duas pessoas. Ou três: uma no chuveiro, outra no vaso, a última escovando os dentes na frente da pia. É estranho alguém num banheiro estreito fazendo cocô do lado de outra escovando os dentes. Então, na verdade, cabem duas mesmo - uma no chuveiro e outra cuidando da higiene bucal.

No quarto, a cama é de casal, mas se espalha em toda extensão do colchão alto de molas. Deita na diagonal e se enrola no lençol. O segundo travesseiro fica no meio das pernas, como faz desde criança. Há gavetas com poucas roupas, que poderiam abrir espaço para outras, mas estão bem acomodadas lá. Há utensílios para mais de uma pessoa. Mas ok. Está tudo bem arrumado, organizado, utilizado. Não precisa de ninguém, mas cabe mais um perfeitamente.

A mulher que se rendeu*

Já fazia um tempo, mas não lembrava quando aquilo virara uma obsessão, só sabia que parecia que tinha experimentado pela primeira vez ontem, o que não era verdade.

Mas naquele dia tudo ia mudar. Decidiu acabar com aquela dependência. Tinha uma folga e resolveu aproveitá-la. Ligou avisando que não ia trabalhar. “Uma indisposição”, disse e, na verdade, não mentiu. O fato é que os colegas de trabalho também agradeceriam se ela parasse com o vício. Já estava incomodando e era comum perceber as pessoas tomando outros rumos ou entrando por portas laterais quando a viam caminhar pelo corredor da empresa. Não a queriam por perto, ou apenas queriam manter-se na paz, sem aborrecimentos e sem precisar sentir aquele cheiro aflitivo que vinha dela.

Pois, não indo trabalhar, continuou de pijama, não abriu as janelas e nem fez muito barulho. Sentou-se sobre a cama e fitou a caixa de papelão colorida sobre a estante. Por causa dos entorpecentes guardados ali, ela já não lembrava há quanto tempo não conseguia comer e nem respirar direito e por isso decidiu acabar com tudo. Havia perdido noção de espaço, de tempo e parecia estar tão fraca que mal conseguia levantar seu ânimo e suas próprias vontades.

A caixa e todas as drogas que a entorpeciam combinavam bem naquele espaço. Há muito tempo ela se acostumara a alimentar-se de altas doses daquela química que a consumia e lhe roubava cor e graça. Ali existiam lembranças e momentos em forma de bilhetes, canhotos de cheque, cartões de estacionamento, tíquetes de cinema, de jogos de futebol, de postais encontrados em lojas, exposições, shows. Também continha fotos, muitas delas. Coloridas, em preto e branco, recortadas, com imã atrás para pregar na geladeira. Com marcas de ferrugem feitas por tachinhas do quadro de cortiça.

Um tempo depois parecia ainda o dia seguinte e ela já estava cheia daquela sensação. Por isso, trêmula, levou todo seu arsenal tóxico à área de serviço, despejou tudo no tanque de lavar roupas e, aos poucos, foi ateando fogo em cada pedaço de engano. A fumaça preta foi subindo e se espalhando pelo apartamento. Ela abriu todas as janelas e ao passo que o vento levava o fruto daquela droga em combustão, também se desfazia no ar tudo o que um dia a fez rir e depois a fez morrer em vida, vivendo como um zumbi oco e inexpressivo.

Horas depois, quando tudo o que era cinza se desgarrou dela, sentia-se meia. Olhou para o tanque e precisou limpar as borras negras que ficaram ali. Muitas manchas permaneceram e nem com litros de água sanitária a cor branca voltou a ser como antes. Cansou e parou de esfregar com força; era um desgaste em vão.

Voltando ao quarto, o espaço da caixa na prateleira gritava e a xingava com mil palavrões. Estendeu o dedo médio e colocou uns livros quaisquer no lugar. Assunto resolvido. Foi aí que se olhou no espelho. O reflexo mostrava uma senhora e não uma mulher. Passou os dedos pelo rosto e sentiu as rugas e a flacidez natural de seus anos.

Fechou os olhos, lembrou de tantas repetições em seus dias, o mesmo trajeto a pé, o mesmo metrô, o mesmo café com o mesmo gosto do mesmo lugar, o mesmo corredor com os mesmos colegas na empresa. As mesmas plantas, o mesmo quarto com janelas fechadas e momentos tantos idênticos, em que decorava cada resquício de um amor frustrado que deixava pegadas e marcas de suor naquela caixa, agora não mais existente.

Já fazia um tempo, mas não percebeu que o tempo estendeu-se e havia retido anos de sua vida quando navegava naquele mar de lamúrias. O mais difícil já tinha feito: acordado. Mas não acreditava que um príncipe encantado pudesse lhe retribuir o amor depositado fielmente naquela conta corrente de ninguém. Fechou os olhos e decidiu esquecer-se. Não sabia viver de outra forma senão aquela que a aprisionara. Uns disseram que, abstêmia, enlouqueceu. Outros que a encontraram morta na cama, outros ainda, que vive por aí, sem rumo. Eu acho que também virou fumaça e quando menos esperamos, ela tenta alimentar nossas tristezas e frustrações.

*texto escrito para colaboração no blog dos coleguinhas do Haja Saco, postado lá em 30-09

6.11.07

humor horror

Domingo, São Paulo, Casa Verde...

palitinhos



Veja mais: www.explosm.net/comics/


E tem também o xkcd.com/, ainda mais legal...





5.11.07

"Que cheiro bom...!"

Trecho de sexta:
Pronto... agora minha avó descobriu o Macaco Simão. Tá virando a Dercy!

Trecho de sábado:
Assisti Um Certo Olhar (Snow Cake) e a Sigourney Weaver tá muito bem como autista.

Trecho de domingo:
- Amanhã você vai escrever alguma coisa no seu blog, né (rs)?
- Óbvio que não!
- Vai sim, te conheço...
- Claro que não, sobre isso não.
- Duvido. Sei até qual vai ser o título!