25.4.08

Um dia diferente no corredor esquecido

- Olá, preciso fotografar os quadros que estão no auditório do térreo, onde está a chave?
- A sala está reformando, os quadros estão embalados um a um e colocados em ordem, não posso liberá-los. Vai que você embaralhe a ordem. E além do mais é um trabalhão embalar com o jornal novamente. Você entende, senhora?
- Faremos o seguinte, você acompanha o processo para eu não correr o risco de bagunçar seu trabalho e eu não toco em nenhum quadro. Mas preciso fotografá-los. É para um projeto do prefeito e o fotógrafo está aqui; descemos em 15 minutos.

Assim que eu e o fotógrafo chegamos ao subsolo e fomos até o local combinado, um corredor mal cuidado que dá acesso à garagem e é usado por poucas pessoas, em geral funcionários de manutenção e limpeza, percebi que as três pessoas que nos esperavam sentiam-se importantes. Logo entendi: os egos inflados orgulhavam-se por estarem atendendo a uma necessidade do prefeito, autoridade máxima da cidade, mas mais importante, autoridade máxima na hierarquia respeita por eles, que estavam na base.

“Puxa, se você tivesse pedido antes a gente já preparava tudo, tirava os jornais, deixaria aqui em ordem. Dá um trabalho fazer isso!”, disse o responsável pelo almoxarifado, valorizando o serviço. Logo, uma mulher simples com crachá indicando fazer parte da equipe, e um senhor corcunda e aparentemente fraco e cansado, com a mesma insígnia no peito, começaram a trazer os pacotes. Quis ajudar, eles não deixaram. Era serviço deles. O superior ordenou que não tirassem da ordem e fossem desembalando com cuidado para que o durex não se perdesse, e pudessem ser novamente embrulhados e guardados. Era assim que ficariam até que o auditório em reforma estivesse pronto. Só então poderiam voltar a ocupar seus distintos lugares na parede, onde marcavam a trajetória de toda uma cidade.

Era quase 11h da manhã quando isso acontecia. Enquanto o fotógrafo fazia as imagens com cada quadro deitado no chão, naquele corredor acimentado, frio e visivelmente sujo, a equipe da limpeza começou a chegar para bater o cartão de ponto. Era hora do almoço deles. Ao verem o corredor abandonado, agora repleto de muito jornal amassado e os 32 grandes quadros no chão, percebi que os olhos de todos brilhavam. Algo novo acontecia ali.

Um começou a contar que conhecia tal passagem histórica relacionada àquele quadro, outro se gabava por conhecer algo mais antigo. Um deles, um dos mais antigos de casa, apontava que se parecia com uma das personalidades ali emolduradas. Outros só riam da cena. O fotógrafo, para eles, era uma personagem envolta em mistérios. O que fazia fotografando fotos? Para quê serviriam? O que ele faria com elas? Por que a atividade estava sendo feita ali, naquele corredor esquecido, longe dos mármores e revestimentos de boa qualidade que os outros todos andares do prédio ostentavam? Não demorou muito, a curiosidade foi rompida: “Pessoal, podem passar por aí com cuidado. O moço está fazendo um serviço pro prefeito!”.

Pronto! Todos queriam ajudar e logo foram colocando a mão na massa. Os que sobraram fingiam desprezo e saiam indignados com os outros, que ao invés de almoçar, estavam ali, embalando quadros em jornal velho. Pura inveja. Engoliam seco a vontade de carregar até o almoxarifado pelo menos um daqueles objetos. Os que conseguiram uma peça para embrulhar sorriam e comentavam bobeiras sobre a prefeitura, a cidade, a história, o amor pela terra, pela região. Naquele momento, o corredor esquecido, com pessoas esquecidas em suas profissões e quereres, experimentava um pouco de glória.

23.4.08

presente de aniversário


Queria poder te comprar todas as motos velozes do universo.
Queria encomendar no mercado negro a melhor guitarra e que ela viesse com um chip de aprendizado, como naquele filme.
Queria também que o note mais poderoso do mundo custasse R$ 1,99, para eu poder te comprar uns 10 de uma vez.
Queria que todo dia a gente pulasse juntos daqueles 53m de altura, pra que você gritasse o que você gritou bem alto, sempre, cada dia desafiando mais a sua garganta.
Queria muito encontrar uma lâmpada mágica e, quando esfregasse, surgisse um gênio. Eu ia pedir que nós fôssemos para uma ilha deserta pelo menos uma vez por mês, que ele conseguisse carros maravilhosos para passearmos com os cabelos ao vento e que me desse controle para eu nunca mais te fazer chorar.
Não sei o que comprar com o pouco dinheiro que eu tenho. Um disco do Legião ou dos Beatles não seria suficiente. Do Metalica seria muito anos 80, do ACDC, pelamor, não gosto.
Que nem criança fazendo desenho com lápis de cor ou dando uma foto pra mãe como se fosse o máximo, vou embalar um sorriso e te dar de presente. E ele vai se repetir todo dia, cada vez que você olhar para ele. Um dia será um sorriso tímido, outro, um sorriso bobo, outro, um sorriso aberto, outro, um sorriso malandro, outro, um sorriso sedutor, outro, um sorriso triste, para você puxar e deixá-lo feliz, à sua moda. Espero que você goste. É de todo meu coração.

carta de amor

Meu amor, eu amo você. Você estava lindo hoje. Meu coração pulou quando te vi de azul. Me desculpa não fazer o trabalho com você hoje, precisei mudar de grupo porque a chata daquela menina falou pra todo mundo que eu estava namorando com você e eu não queria que soubessem. Viu, não fica chateado. Mas também não manda bilhetinho na sala, porque eles vão descobrir que é verdade (estou mandando esse porque sou discreta). No recreio a gente se encontra na frente da 6ª A, porque ninguém fica lá nessa hora, porque fica longe da cantina.

Queria te falar mais uma coisa... Adorei quando você estava indo embora e desenhou um coração no ar! A sua mãe estava perto e não viu, foi superlegal, ninguém viu, só eu. Eu tenho certeza que a gente vai ser muito feliz e que aquela chata não vai atrapalhar dizendo pra todo mundo que sou eu quem escrevo as redações para você e é você quem faz minha lição de matemática. Eu amo você.

Viu, mais uma outra coisa. E essa é séria. Ainda não estou preparada para dar beijo de língua. Você pode esperar até o mês que vem? Aí te dou uma resposta de quando acho que farei isso. Vou procurar no Google se não é anti-higiênico. Eu sei que todo mundo faz isso, mas seilá.

Mil beijos, te amo, te quero e te desejo mais que tudo! Quero casar com você daqui 10 anos mais ou menos.

Assinado, sua namorada secreta da sua sala, 5 ª B.

18.4.08

só se fala nisso

A mãe chorou na missa, tá salva. O pai é homem, tudo bem não chorar.

“Mostra, câmera! Ela não chora, a madrasta não chora!”
Cara, pelo jeito ela vai ser presa, está em estado de choque, só esperando a sentença, com um fio de esperança de o caso se reverter.
Lógico que ela não chora!
Ô povo latino de sangue quente!
Ô urubuzaiada!
Ô sensacionalismo pobre...

Ô sexta-feira que não acaba!

1.4.08


Odeio brigadeiro, odeio os chocolates todos.
Adoro legumes e dieta, assim como azeitonas e comida chinesa, mesmo que essas coisas não tenham muito a ver com as primeiras.
Adoro axé e Paulo Coelho.
Detesto comprar roupas e viajar, me cansam!
Adoro ficar sozinha nos finais de semana.

Tá, só pra não esquecer da brincadeira do 1o de abril. Quando era criança, era uma delícia essa baboseira :)