28.9.07

da série Sextas Infames (episódio 3)


Nossa... sexta-feira do cão. Só agora consegui postar... ainda vale, ainda é sexta.


Remédio barato


Sexta-feira chegou e nem vi a semana passar
O calor deu lugar ao frio
E a chuva nada de cair pra nos abençoar

Com nariz trancado e garganta arranhando
Passei a semana meio reclamando
Mas sexta chegou e eu melhorei
Foi automático, nem remédio tomei

A bela primavera me faz cantar
E entre flores e brisa eu quero dançar
Nesta sexta e sábado vou me acabar
Pra na segunda-feira tudo recomeçar.


Essência (baseado na Real Beleza Dove)

A menina esquisita bonita queria ser
Mas não sabia como isso podia acontecer
Pintou os olhos, prendeu os cabelos e um vestido pagou pra fazer
Se enfeitou e saiu para a rua brincar
Mas com o novo visual não conseguiu nem rodar
A saia justa prendeu as pernas e ela não pôde dançar

Se encheu e pra casa voltou sem pensar
E um shorts larguinho tratou de botar
Feliz sorriu e conseguiu atestar
A beleza vem de dentro e não dá pra comprar.

24.9.07

Ela saiu da caixinha de música

Não precisou trocar de roupa mais de uma vez. Viu que estava bem. A saia era de bom gosto, a blusa, charmosa. Sapato perfeito: lindo e confortável. Enfiou pulseiras nos dois braços, escolheu uns brincos diferentes e ainda pendurou um colar. Parecia um cabide de mostruário de loja, mas sentia-se bem. Estava protegida em todas as partes. A bolsa atravessando diagonalmente o corpo a abraçava e uma presilha pesava sobre sua cabeça, para não sair do lugar. Se perfumou para que os poros não exalassem tristeza, mas um cheiro delicado de flores com uma pitada de sensualidade, que só determinado vidro inanimado cor-de-rosa poderia oferecer naquele momento. Ainda faltava escovar os dentes e fazer uma maquiagem, para não ir com o rosto cinza. Usou bastante creme dental e contornou os olhos da maneira costumeira, puxando um traço além da área sobre os cílios. Se olhou no espelho e viu algo brotar lá de dentro, fazendo com que as bochechas parecessem mais salientes. Agora sim podia arriscar o pé para fora de casa. Saiu e o vento estava tão perfeito que ela esqueceu que antes teria tristezas para distribuir. O céu estava tão perfeito que ela esqueceu que queria um teto para esconder-se e a rua estava com o asfalto tão brilhante que ela esqueceu como era duro e áspero passar por ali. Deslizou e riu tanto que até esqueceu que parecia um cabide de mostruário. De repente estava nua no meio de uma multidão e isso não a incomodava. Os pés permaneceram firmes na terra, mas ela voou por algumas horas sem que ninguém percebesse. Sim, ninguém viu, mas todos sentiram a brisa do balanço dos cabelos dela cada vez que completava uma volta por aquele pedaço de céu e de chão.

21.9.07

Vambóra pra frente (da série sextas infames)

Sexta-feira chegou
E ‘Um dia sem carro’ eu vou dispensar
Já enchi os pneus, verifiquei a água do carburador
O tanque ta cheio
E é pra estrada que eu vou

Sexta-feira chegou
E eu decidi:
Este é dia de versos infames no blog
Dia de deixar livre meu lado bobo e grógui

Sexta-feira chegou
E meus olhos não param de rir
Já fiz a mala e pra vida vou partir

Sexta-feira chegou e não só nesta semana
Sexta-feira virou símbolo, da minha essência que diz
Que se quarta é Zeca, sexta é Thais.

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Tá decidido, depois do sucesso (rs) dos versos infames da sexta passada, agora, aqui, as sextas serão todas assim.

20.9.07

sem mais ataques

Corre, corre, vai mais rápido que você me desafia a virar maratonista. Se quiser nadar, tudo bem, ou pegar uma bike para descer as ladeiras mais depressa, ok, viro triatleta para te perseguir.

Se você sumir de vista, meto-me nas asas de um pardal e saio sobrevoando o mundo em busca de você. Se virar molécula, transformo-me em microscópio para te diferenciar entre todas as outras.

Sei que pode estar por aí sugando flores nesta primavera precipitada, te procuro nos jardins e, se te achar, não cortarei tuas asas, mas te entregarei minhas melhores seivas e fragrâncias.

Ando errando o caminho e batendo em mil paredes para conseguir achar você nesse planeta enorme e até já ultrapassei as fronteiras da atmosfera. Fiquei sem ar, caí lá de cima, o sol me queimou e acabei num cassino em Las Vegas. Já perdi muito no caça-níquel, no blackjack, na roleta, no baccarat. Agora cresci e estou na mesa de poker. Na minha mão, um royal straight flush está pronto para matar o jogo e eu te levar pra casa, assim que você aparecer.

19.9.07

Beijo da morte

Esta música é muitoooooo boa. New Order é muito bom!

Comentário na saída do cine

Acabei de assistir "Não por Acaso" e gostei. Não está na lista dos meus 100 mais, mas é bacana... e poético. Um cara saiu da sala e ouvi dizendo para a mulher que estava com ele que "é quase um monólogo", concordei. O filme traz bastante subjetividade e eu gosto disso.

Um pequeno trecho que me marcou foi uma fala da personagem Ênio, vendo São Paulo da torre do Banespa: "engraçado né, uma coisa acontece agora e a gente não sabe onde vai dar". Não faz muito tempo estive lá e pensei exatamente a mesma coisa.

Esta parte, vi agorinha, está no trailer do filme. Você pode dar uma olhada se quiser aí embaixo. Nada demais este post, é que como fui sozinha ao cine e o mundo sumiu de casa, estou sem ninguém pra compartilhar, rs.

Solidão

Entrou e quando viu a moça se aproximar desabotoou a calça e desceu o zíper sem cerimônia. Já estava velho, machucado e gordo demais para pensar em amor, beijos, sexo com carinho, cujo desfecho fosse um sono profundo em meio a abraços e não uma satisfação momentânea por algum dinheiro ou um grito calado de prazer solitário.

Não tinha vergonha do que fazia toda sexta-feira naquele lugar sujo e barato. Já estava velho, machucado e gordo demais para pensar em delicadezas. Simplesmente viu que ela se aproximava e, por baixo da mesinha redonda, desabotoou a calça, desceu o zíper e soltou um risinho assanhado.

Sabia que aquele ato era vergonhoso e lembrava sempre que era um pecado, mas não se importava, pois quando se olhava no espelho, via com tristeza um homem velho, gordo e cheio de cicatrizes que ainda doíam. Então, quando ela chegou bem perto, já agarrou os talheres e atacou a porção de frango assado e de espaguete ao sugo, marcadas no cardápio para duas pessoas. Mais uma vez entregava-se à gula e enchia o estômago e todos seus outros vazios.

18.9.07

(poder de retalhos)



Se é correspondido, o amor é batismo,
se não é
é extrema-unção.

Mas
por pior que seja o desgosto
o amor é tão poderoso
que até seu não é ressurreição.

O corpo morre facilmente
mas os fiapos de alma
- feita de seilá-o-que -
completam os vazios como colcha de retalhos.

(O amor é tão poderoso
que até o que é triste exala beleza)
nos pequenos quadrados
ligados
amarrados
costurados
para não soltar
e virar ar coletivo do mundo
(O amor é tão poderoso
que não deixa esquecer)
que um dia
foi respiração ofegante de dois cúmplices.

A política é como a química



Lembro de uma palestra com a assessora de comunicação da Basf, que contava sobre o case da empresa, que precisou de um suado plano estratégico integrado de comunicação para tirar o rótulo de “química é podre” do senso comum, algo que, nas vésperas da virada do milênio estava muito à tona. A onda do natureba, light, o boom de programas de Responsabilidade Ambiental e Social nas organizações e assim por diante, cegava os mais simplistas e parecia que a química não estava inserida no mundo e era coisa de um passado bárbaro. Como se química se reduzisse a processos grosseiros de fabrico e fosse quase sinônimo de soda cáustica.

Com um planejamento bem elaborado, a Basf refez seu slogan e com “A Química da Vida” investiu em espaços publicitários em todos os cantos e logo todos eram persuadidos de que a química está por toda parte e não é uma vilã do mundo moderno, ao contrário, faz parte da vida das pessoas.
Lembrei disso ontem de manhãzinha ouvindo a Jovem Pan sobre o caso Renan Calheiros (amanhã tem votação do segundo processo, vamos ver o que vai dar).

Na semana passada, Renan foi absolvido pelo plenário do Senado, em sessão secreta, no processo que pedia a cassação de seu mandato. Apesar de ser acusado de usar recursos da empreiteira Mendes Júnior para pagar aluguel e pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha fora do casamento, o cara continua lá. O fato colocou o “ahhhhhhh não é possível!” na boca de muita gente e os poucos exemplares de uma imprensa crítica remanescente de outros carnavais noticiou que “o plenário tomou uma decisão contra a vontade do povo”. E foi aí que pensei: mas que vontade é essa que deixa tudo passar?

Como a Basf fez, alguém, alguma coisa, de alguma forma deveria mostrar pro povo que a política não é um bicho de sete cabeças, como a química, permeia nosso cotidiano. Nós votamos, pagamos impostos e temos informações (pelo menos parte delas, que a mídia noticia) sobre o que acontece no topo da política e parece que é só isso. Mas não. Não mesmo. Há política no ambiente de trabalho, na relação com os vizinhos, na escolha do presente que vamos comprar em conjunto para um membro da família, na hora que defendemos que X bar que queremos ir é mais interessante. Até em alguns “bons dias” há política. Mas o povo não a sente por perto, parece que ela está muito longe de seu alcance, que a política pública "não é pro seu bico".

Alguns idealistas e outros seres pequenos demais no seu entendimento de como funcionam as coisas acreditam que a corrupção acabe quando X ou Y partido ou presidente assumir o poder, mas todos têm interesses próprios, todos têm sua política e imaginar que basta colocar os problemas nas mãos de um milagreiro e cair no samba é o caminho, é um erro. Se a maioria que vota vê aquela ação como um “ok” momentâneo na urna eletrônica (supermoderninha, por sinal), aquele dia que ninguém pode beber e passa horas procurando pelo título escondido em alguma pastinha ou gaveta não tem sentido. Num país onde as pessoas não vivem, passam pela democracia, a liberdade de escolha é um presente de grego.


p.s.: não escrevi isso criticando o governo atual ou o anterior, ou um partido ou outro. O que irrita é a postura do brasileiro e me incluo nisso de certa forma.

14.9.07

(80%) brancos e (100%) infames



Má companhia

Abordagem muda, calada, criada
De joelhos como que em oração
Aparece cinza e estranho.
Agarrando os joelhos,
cobre-se com cobertas e fibras musculares rígidas
Suor, pânico
Olhos não fecham, piscam.
Coração não bate, martela.
Garganta fecha, oração não se eleva.

Noites em claro
Velhos pesadelos.



Engano

Viu o mar perfeito pelo vão das pernas da mãe
Viu o sol perfeito pelo negativo de um filme fotográfico
Viu a lua e as estrelas perfeitas todas a céu aberto de uma varanda
Viu as flores perfeitas no canteiro da avó
Viu sorrisos perfeitos ao longo dos anos
Viu a cena perfeita na avenida perfeita da cidade perfeita com a pessoa perfeita
Achou que tinha visto todas as perfeições
Acreditou
Mas era tudo imperfeito.



Fome

Arroz, feijão, batata frita, bife à milanesa ou parmegiana
Filé mignon, molho fungui, salada de palmito
Lasanha, espaguete, milho verde na espiga
Frango ao suco de laranja, salmão ao maracujá, pintado na brasa
Panquecas, crepes, sorvetes, bombons, amanditas,
Guarda-chuvinhas de chocolate, lápis, moedinhas
Não. Torta salgada, pastel de feira, kibe assado, esfirras!

Miojo, hummm, que delícia.



Sexta-feira

Abre, senta, cinta, liga, sai, segue, pista,
Pedágio, pista, pista, pista, pista, pista, pista
Pedágio, pista, pista, pista, pista, pista, pista
Pista, pista, pista, pista, pista, pista, pista, pista,
Pista, pist-a, pis, t-a, pi-s-t-a, p-i-s-t-a...
Lar, doce, lar.
Ça va?!



Final feliz

Cansada de ficar sozinha
Lembrou do conselho da vizinha:
Melhor se enforcar num pé de couve.

Roça adentro buscava um pé que lhe agüentasse
Estava fraca, fácil achar um que a segurasse.

Perdida no mato, sem avistar sequer uma casinha
Lembrou do conselho da vizinha:
No desespero louve.

Rezou e ao longe viu um moço de chapéu
Estava fraca, difícil pedir outra ajuda que não a do céu.

Mas ele a viu e a socorreu.
As pupilas dilataram
e as mãos nas delas ele correu.
Ela não sabia, mas ele era surdo.
Pronto, trocou o pé de couve por um anjo que não ouve!

12.9.07

Eu, eu mesma e Scorsese


Uma coisa puxa a outra e, no cinema, lembrei do esperado Oscar para “Melhor diretor” conquistado por Martin Scorsese no ano passado. Não, nenhum trailer anunciava um próximo filme dele, mas fazendo zilhões de ligações meus neurônios trouxeram a imagem dele com o Oscar na mão. O estalo foi assim: “meu! Tenho tudo a ver com o Scorsese!”.

Não é prepotência, olha só, além dos óculos com armação quadrada e grossa, nariz avantajado, ele não abre mão do seu estilo. O cara é ponta-firme.

Ok, mas o fato é que ele tentou, tentou, mas o homenzinho de ouro apareceu depois de muito trampo. Os filmes que mais o fizeram chegar perto de uma estatueta para “Melhor diretor” foram Gangues de Nova York (2002), com dez indicações, e O Aviador (2004), com 11. Mas foi só no ano passado, que The Departed lhe rendeu o esperado (mais pelo mundo que por ele, que já estava cansado de não ter o nome no envelope) Oscar. Até o Clint Eastwood passou a perna nele. Pô!!!


Então, como Scorsese, já passei por dois “quase”, “é agora, é agora”, “consegui!”, mas meu “homem de ouro” não veio pra casa. Óbvio que analisando friamente é duro engolir que o cara conseguiu o Oscar já na terceira (existe quarta?) idade... Assim, essa é mesmo uma preocupação legítima. O melhor a fazer para viver bem e não enlouquecer de não-amor é ter fé e não esmorecer quando alguém acabar com o romantismo e dizer “ahhhh, aquilo foi prêmio de consolação! pô, que talento reconhecido oscambau*!”. Isso NÃO é verdade.

Afinal, não adianta ser bom e ganhar vários bons prêmios. Na cabeceira da cama tem que estar o melhor.

Depois desse besterol que pareceu interessante na minha mente maluca e cheia de links desvairados, enquanto via o trailer de Passado, com Gael García Bernal fazendo papel de esquecidinho (deve ser bom o filme), começou Primo Basílio. Sorte que a Glória Pires estava lá, no papel da esférica Juliana e salvou minha entrada inteira, porque sou eterna estudante, mas só filosofia de vida não carimba carteirinha de desconto.

O filme foi tão bom que voltei pra casa retomando a teoria "retarded" da minha semelhança com o Scorsese e não pensando no Basílio (ou no Jorge, muito mais meu tipo).

* afinal, como escreve “oscambau”?

10.9.07

Dia Mundial de Prevenção do Suicídio



Ok. É romântico, é byronista, é marcante. Mas eu não pularia, não tomaria zilhões de remédios, não cortaria os pulsos, não me enforcaria, não tomaria overdose, não me jogaria na frente de carros, trens, trens de pouso, motos, trilho de metrô. Não. Não me afogaria, não estouraria os miolos com um tiro. Nada de "boom". Quando eu morrer será "pluft" e pronto. Na hora certa, seja ela qual for. Há o que ver, o que cheirar, o que experimentar. Às vezes o gosto amargo prevalece, mas nas entrelinhas há muito chocolate e sorvete para degustar.

E pensar que tudo começou com um grito da mãe, um sorrisão do pai, um tapa na bunda do médico, um choro ardido ao ver a luz e receber ar pela primeira vez... um ano depois "Parabéns pra você". Tá, nem sempre é tão "redondo" assim, mas a luz e o ar sempre estão lá.


Uma pessoa se suicida a cada 30 segundos no mundo, diz OMS. Veja a notícia que saiu na Folha On Line

6.9.07

E as cortinas se fecharam...



É estranho quando um ícone morre. Parece que só quem sente dor são pessoas comuns, como eu, meus amigos, conhecidos. De repente uma doença se apodera e faz calar.

Lembro que já havia ouvido o tenor Luciano Pavarotti muitas vezes, mas a primeira que me emocionei foi com Miss Sarajevo. No momento que era ouvida e o show beneficente visto ao vivo pela TV, a situação, a letra, a música eram lindas. Bono estava lá, emprestando seu charme e fortalecendo seu posicionamento filantrópico diante de um cenário triste de guerra... mas o que fez a diferença, o que deu significado àquela música que marcava um momento histórico foi mesmo a expressão do sentimento despejado de forma violenta, grave, poderosa e sem abafadores, na voz de Pavarotti.

Foi quando ele entrou na música quebrando o ritmo baixo e delicado que Bono dava à canção, que eu desmoronei e creio que o mundo sentiu o real significado de tudo aquilo, assim como eu. Se Pavarotti fez diferença na música lírica pelo seu talento e técnica, para mim ele fez diferença quando suas notas tocaram forte meu coração. As cortinas se fecharam, mas ele soube fazer a diferença e ganhou a imortalidade.
E na paz.


Foto: Jason Szenes/EFE -14.mar.2004
Aqui, no álbum do Uol



(atualizado às 19h)
obs.: Escrevi merda. O show que tenho na memória foi o Pavarotti And Friends (o vídeo é esse aí). A música foi feita para um documentário sobre a guerra na Bósnia e dá referências do concurso da Miss Sarajevo, que foi realmente realizado em plena guerra para chamar a atenção das autoridades européias aos horrores que estavam acontecendo em Sarajevo. No desfile as candidatas entraram na passarela com um cartaz que dizia: "Não deixem que eles nos matem", cena que estampou muitas primeiras páginas de jornais. Nada como Google e Wikipédia para checar gafes. Mas sim, ouve arrecadações e movimentações antiguerra. É isso. Haveria ainda muito o que dizer... mas fica pra próxima.

3.9.07

é só Roma ou romã

O amor é quase nada. É apenas uma palavra na boca da maioria das pessoas do mundo. Amor é roma ao contrário, Roma ou romã. Só isso. Queimemos a primeira, chupemos as sementes em simpatia de Ano Novo na segunda e só.

O amor não tem sentido. É só uma palavrinha simples de soletrar, com fonética ritmada e fácil de separar as silabas: a-mor. A-mortecido, a-mordaçar, a-morfo, a-mornado, a-mortalhado, a-mortecedor, a-mortiçar.

O amor não é real. É algo subjetivo demais, confuso demais, mascarado demais. É jogo de poker sem estratégia, é Straight Flush roubado. É ator de filme de quinta, de seriado sem graça e de novelinha mexicana, mas com pretensão a protagonista digno de Oscar, Cannes, Concha, Leão, Globo e Palma de Ouro.

O amor não é mocinho, é bandido. Ele não salva, mas sai atirando por aí, mata uma, duas, três, mata quantas vidas puder. Mata até gato. Mata fênix. O amor matou toda máfia italiana e todos os membros da Yakuza.

Achar que ele é verdadeiro é como comprar televisão em promoção por R$ 799 e encontrar por R$ 599 na loja ao lado. É como acreditar no e-mail que lhe envia um prêmio. É como acordar com porre de vinho batizado ou vodka porcaria.

Faz quase 27 anos que não aprendo. É por isso que vivo maltrapilha e doente por aí. É por isso que minha enxaqueca é crônica e também por isso que trago sempre Engov na bolsa.