19.9.07

Solidão

Entrou e quando viu a moça se aproximar desabotoou a calça e desceu o zíper sem cerimônia. Já estava velho, machucado e gordo demais para pensar em amor, beijos, sexo com carinho, cujo desfecho fosse um sono profundo em meio a abraços e não uma satisfação momentânea por algum dinheiro ou um grito calado de prazer solitário.

Não tinha vergonha do que fazia toda sexta-feira naquele lugar sujo e barato. Já estava velho, machucado e gordo demais para pensar em delicadezas. Simplesmente viu que ela se aproximava e, por baixo da mesinha redonda, desabotoou a calça, desceu o zíper e soltou um risinho assanhado.

Sabia que aquele ato era vergonhoso e lembrava sempre que era um pecado, mas não se importava, pois quando se olhava no espelho, via com tristeza um homem velho, gordo e cheio de cicatrizes que ainda doíam. Então, quando ela chegou bem perto, já agarrou os talheres e atacou a porção de frango assado e de espaguete ao sugo, marcadas no cardápio para duas pessoas. Mais uma vez entregava-se à gula e enchia o estômago e todos seus outros vazios.

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