27.11.08

pensando...

Vi num blog muito sensível a seguinte frase em um post:

"Você não tem uma alma. Você é uma alma. Você tem um corpo."
C. S. Lewis

Claro que isso me fez pensar. E pensar em quantas coisas imbecis acontecem, por não termos foco nisso. Preconceito, amarguras, doenças emocionais, separatismo... talvez o mundo fosse melhor se nossos olhos não nos traissem tanto. Talvez o mal não conseguisse se apoderar de nosso juízo se houvesse mais pureza filtrando nossos olhares.

Uma colega sempre diz que quanto mais conhece os homens, mais gosta dos cães. É justo! O cérebro deles não têm a capacidade de se contaminar com as maldades do mundo. Aí, quem enxergam e farejam são recebidos conforme a essência que possuem. A ingenuidade e inocência dos cães não poluem seus sentidos.

13.11.08

teto de vidro

Antes mesmo de entrar, mas já ao tocar a campanhinha, conseguia sentir a casa da avó. O cheiro de sempre, a claridade de sempre, que em dias de céu aberto, independente da estação do ano, iluminava os móveis da mesma forma, às 10h da manhã. A posição da mesa de jantar, do sofá e dos tantos relógios fora de sincronia, que badalavam “a hora certa”, cada um em um momento, compunham o cenário atemporal. Não fosse a estante nova e alguns badulaques enfeitando as prateleiras, a sala pareceria compor um museu de cera, daqueles bons, que a gente jura que é de verdade.

Entrou, a avó deu-lhe um abraço. Ao contrário da sala, ela era vulnerável. Estava mais magra, mais baixa e mais enrugada que antes, mas continuava idêntica, por contradição. Sentaram no sofá. O crochê de barbante e flores de plástico, que como diz a música “não morrem”, faziam-se confirmação de todo aquele quadro estático e coberto de uma poeira invisível, que só quem tem memórias consegue enxergar.

Tudo estava em perfeita harmonia até que ela passou pelo corredor. Estreito, com cerca de um metro apenas entre uma parede e outra, foi impossível não dar de cara com um quadrinho novo. Emparelhado ao velho retrato dela ao lado do primo e irmã, estava ali um outro, com as mesmas personagens, na mesma posição, mas revelado quase vinte anos depois. Agora jogador de basquete, o primo abraçava as duas moças, bem menores que ele, uma de cada lado.

A foto do quadrinho novo, feita exatamente para estar ali, já tinha dois anos, mas ninguém havia lembrado de ampliar e estava esquecida em um computador. Os sorrisos sinceros não deixavam dúvidas que aquelas crianças e aqueles adultos eram as mesmas pessoas. Para quem via, uma curiosidade e um bom enquadramento, mas para cada um deles, um intervalo de tempo cheio de acontecimentos bons e ruins.

A presença do quadrinho novo abalou as estruturas, como se quebrasse um paradigma. De repente a sala não era mais de cera. De repente os relógios moveram rápido demais os ponteiros. De repente tudo parecia estranho e o garotinho com menos de um metro de altura e as priminhas que o ladeavam com blusas do mesmo tecido e colarzinho de miçanga, tiveram que crescer e soprar a poeira sob aquela mesma luminosidade das 10h da manhã.

23.10.08

o fim

Desculpa, eu sei que você esteve comigo por dias e dias e sei que pareceu que eu realmente me importava com você. Sei também que eu disse ser apaixonada por você mais de dezenas de vezes. Inclusive, declarei isso na frente de outras pessoas. Eu sei. Não que eu quisesse te deixar apaixonado, não que eu quisesse que você acreditasse que era sentimento de fato, de verdade, real, algo além de saliva e mordidas. É que sempre que nos víamos eu precisava de saciedade imediata e lá estava você, e lá estava eu dizendo bobagens. Desculpe. Você tem que entender que não tem nada e nunca teve nada de concreto e profundo entre a gente, só uma troca de energia fluida e quente. Saborosa sim, mas nada que envolvesse intimidade, só um relacionamento superficial e deliciosamente sem cobranças. Agora que isso mudou e me dou mais valor, tenho que colocar um ponto final. É sério. Esqueça de todos os bons momentos. Quando tiver dúvidas, lembre da minha voz repetindo com força e crueldade: Mc Cheddar, você está fora da minha vida. Você e suas batatinhas crocantes cheias de sal, que ficam ótimas com ketchup.

24.9.08

momento chicletinho

Gosto de ouvir músicas de dor de cotovelo e não me encaixar, mas gosto mesmo é de me acomodar em suas notas meio desafinadas e na sua caixa de distorção (é assim que chama aquele tréco cheio de botões?). Gosto de torcer para você ficar mais um pouquinho e dar certo, gosto de ficar presa entre seus caninos. Gosto de ser sua presa, e de te prender também. Gosto do seu sofá vermelho e de colocar meus pés ao lado dos seus na cadeira fora de lugar e de ter medo do suspense à frente ou da sua cabeça baixa no batente da porta. Gosto que você seja assim, grande, pra eu me sentir pequena e sua, gosto de ser cuidada por você. Gosto de lembrar de você e de mim como passado, só pra ficar mais feliz sabendo que é presente. Gosto de você embrulhado ou só numa sacolinha. Gosto de você mesmo num envelope, sem nem etiqueta, sem capa e caixa de DVD. Não preciso ter o gênero, nem a data de gravação, ou a trilha sonora no estojo preto. Eu conheço a história e gosto dela. Gosto de tê-la sempre no play, como a fita "Os Caça Fantasmas", que minha irmã via cinco vezes por dia em 1990 e alguma coisa. Gosto de fazer mil coisas, mas você estar sempre no pensamento. Gosto de você ser parte e não incomodar. Você está em todos os lugares, até aqui.

queria a velocidade da luz nos dias úteis (?)


Trabalho, escrevo, corro pra lá e pra cá, bebo mais água que o usual, arrisco subir uns degraus ao invés do elevador, quero gastar meu tempo, quero que ele acabe, não quero que ele me prenda como cola, como aquela cola de armadilha de rato. Quero ganhar uma corrida que canse o tempo e faça o relógio parecer acelerado, e acabado. Saio, rio, bebo, como, falo com pessoas na mesma língua que eu. Busco palavras diferentes, assuntos diferentes. Quero sucumbir o tempo, quero sentir que ele é menor do que realmente é. Tento enganá-lo e persuadir meu relógio biológico que as horas não são longas demais. Olho pela janela do sétimo andar, viajo nas montanhas que ficam ao fundo da paisagem cheia de ruas e carros em primeiro plano. Quero que o tempo corra como os carros e motos que cortam a frente de ônibus e pedestres no chão. Quero que o tempo seja inversamente proporcional à lenta velocidade das nuvens que pouco se movem entre as montanhas. Quero que o tempo passe logo, quero que chegue logo o fim de semana para pelo menos um tiquinho eu ter você em slow motion, se possível for.

19.9.08

17 de novembro de 2007

Pernas e pernas, coxas. Estômago borbulhante encostado no dele. Costelas cobertas. Próximas. Carne. Seios inflados num sutiã de armação, adrenalina correndo nas veias, artérias e músculos, e na gordura localizada, e na pele e nos pelos. Amassam o peito dele, empurram, sentem, saboreiam. Braços, abraço, mãos de um lado ao outro das costas. Pescoço nu, perfume cru, pescoço cru. Gosto sem cozer. Oxigênio em abundância enche os pulmões, inspira, expira, ar quente em pouca distância. Boca, língua, dentes, lábios, papilas e braços e pernas e pescoço cru. Olhos fechados para imortalizar e fazer real. Ouvidos abertos fazendo a música penetrar. Boca. Língua. Lábios. Papilas. Braços e pernas e mãos. Aroma, sabor, textura. 17 de novembro de 2007, semana passada, semana que vem.

3.9.08

a cozinha

Dentre as experiências na cozinha havia pouca coisa a salientar: um mousse de limão espetacular, tentativas amargas de fazer arroz na panela com solução encontrada quase um ano e meio depois de muita desgraça e um susto provocado pela união de frango, óleo e fogo. O pequeno espaço que guardava uma geladeira novíssima e sempre 99% vazia, um fogão especialista em assar comidinhas prontas e uma pia com armário repleto de panelas e travessas quase sem uso, era praticamente cenográfico. É verdade que sempre tinha louça suja na pia, o que dava bastante veracidade ao ambiente, mas a cozinha não era um local de fumaça aromatizada por temperos e respingada por caldos saborosos. Não. Era mesmo o que tinha depois da porta de correr da sala, e o que vinha antes do armarinho de dispensa com o soberano microondas em cima. O teto ainda cinza pelo resultado da citada união de frango, óleo e fogo continuava assim desde o ocorrido mais de 365 dias antes. O relógio de parede sem pilha continuava sobre a banqueta de madeira e o pingüim de pelúcia estava imóvel desde sempre, no alto e sem resquício algum de gordura, apenas pó.

Em toda a história daquela cozinha só um dia deste ano teve destaque, o dia 2 de agosto. Com a presença das caixas na sala, a cozinha ganhou atenção e uma vontade enorme de fazer aquele maquinário enferrujado funcionar emergiu dos tupperwares escondidos na profundeza de uma gaveta. De comestível havia poucos elementos: açúcar, barrinhas de cereal, macarrão penne, um pacotinho de gelatina, uma lata de creme de leite e uma de leite condensado. Assim, o avental saiu do ganchinho na parede, o abridor e colheres das gavetas e a fôrma de pudim foi lavada e enxugada com pano de prato limpíssimo. O mix elétrico mexeu ou ingredientes à base de leite com a gelatina recém feita na preferida panela vermelha. Pronta, a sobremesa foi para a primeira grade da geladeira, lugar de respeito. Depois que as caixas engolissem tudo, o doce seria companhia e remédio. Seu papel era importante. Tratou de manter-se bem firme e gostoso.

a.c e d.c

Depois que saíram do carro, as caixas subiram pelo elevador e ficaram na sala. Elas ocupavam uma parte considerável do chão. Estavam amontoadas e podiam enxergar também a cozinha e a pequena área de serviço. “Logo vamos engolir tudo o que tem nessas gavetas!”, comentou uma com malícia. Ao que outra completou: “Não vai sobrar nenhuma coisinha também em cima dos móveis. Olha aquelas velas ali, e aqueles castiçais. Vão ficar todos amontoados aqui em mim, hehehe”. As caixas riam sarcasticamente das peças de decoração, dos quadros, das toalhinhas coloridas, dos livros e CD´s, de tudo que perderia sem lugar.

Elas ainda estavam em um canto, mas logo dominariam o pedaço e sabiam disso. Aliás, aguardavam ansiosas pela apoteose. Passaram a noite imaginando serem recheadas de partes de vida de objetos inanimados. De lá, iam para um caminhão fechado e escuro e tudo que engoliram seria eliminado apenas quase 200 km de distância depois. Elas eram más. Elas sabiam que fariam diferença, pois elas carregariam história sem deixar pedra sobre pedra. Elas iriam colaborar ativamente para o fim de uma fase. Elas eram divisores de águas. De repente, criara-se uma era: antes das caixas e depois das caixas.

27.8.08

às vezes...

Às vezes dá vontade de correr, correr sem parar, pulando obstáculos, costurando vias, alternando estrada de terra, asfalto, paralelepípedo, mármore escorregadio. Chão liso de shoppings ou de grandes supermercados, fechados para limpeza, cheios de sabão. Dá vontade de correr e se jogar ali, para a espuma ajudar a ir escorregando pra frente. Medida bem humorada de criança que quer rir, sem se importar em molhar a bunda.

Às vezes dá vontade de chorar, chorar muito mesmo, exageradamente como tudo que acontece naquela propaganda do Novo Fiesta, que o pessoal fala “tudo bem!”. Chorar até as lágrimas acabarem, até o rosto ficar molhado e o pescoço melado. E as roupas respingadas. E as mãos cheias de rímel e lápis preto. Sabe aquele choro que depois vira risada, risada da própria tragédia? Então, às vezes dá vontade de ter tragédia só pra rir da comédia do fundo do poço.

Às vezes também da vontade, sabe do quê? De andar sem sapato. Não dá? Às vezes bate uma vontade de ficar descalça e sentir o geladinho do chão! Dá vontade de procurar imperfeições no piso e senti-las com os dedos dos pés. Dá vontade de fazer todo mundo ficar assim e jogar os sapatos do alto de uma janela bem alta, e ficar olhando o que vai acontecer com eles quando terminarem a queda livre. Ou então, dá vontade de arrancar e jogá-los na pista, em alta velocidade e dirigir descalça. É gostoso sentir os dedos nos pedais. É legal sair com a sola do pé suja.

Às vezes dá vontade de envelhecer para virar aposentada e curtir cinema de graça, teatro, andar de ônibus pela cidade à toa, ouvindo as conversas dos outros. Às vezes dá vontade de ser criança de novo e poder fazer absurdos sem ninguém achar anormal, só, no máximo, levar bronca por ter saído da linha. Às vezes dá vontade de ser pipa e ficar voando no céu. Mas aí, dá vontade de ser passarinho e ser pipa perde a graça, apesar do charme. Quando bate a vontade de ser passarinho é uma gostosura. O cenário é entardecer com pôr-do-sol e um ventinho refrescante sopra no rosto. O cheiro de eucalipto vem junto com a vontade de ser passarinho sempre voador.

Às vezes dá vontade de tomar banho na bacia de alumínio da minha avó e ficar jogando água nas pessoas que passam, mas só meus pés cabem nela hoje em dia. Poderia ser ruim, mas realizaria três vontades de uma vez: a de voltar a ser criança, a de ficar descalça e a de ser passarinho, porque, para isso, é só fechar os olhos e ficar quietinha. Qualquer dia vou experimentar.

26.8.08

pensando em quereres ...

- Quero ter um apartamento com pouca parede e uma bela varanda numa rua larga/avenida arborizada (não tem problema ter barulho, mas tem que ter luz ambiente bacana contrastando com as folhagens que deverão formar um corredor dividindo as mãos da rua larga/avenida).

- Também quero um New Beatle amarelo (me dei conta que é meu preferido depois do Mini – nada acessível – no fim de semana. O marido da minha amiga quer que ela compre um e ela está titubeando... estou trabalhando para ajudar a colocar a cabeça dela logo no lugar e ela aceitar a idéia).

- Quero poder escrever bem em algum lugar, quero ser cronista um dia. Mas de verdade, e nacionalmente reconhecida. Ou mais.

- Sempre quis um irmão gêmeo, mas isso sempre foi impossível e desde cedo aprendi que existem coisas que estão além do nosso alcance e, as que não estão, precisam de uma forcinha para serem conquistadas. “Tamoaê”.

- Queria que meu cabelo estivesse como há uns meses, antes de eu cortar. Mas eu tenho certeza que se eu não tivesse cortado estaria marcando horário no salão ou já teria cortado e daqui uns meses teria me arrependido, ou seja: ok.

- Queria pelo menos dois abraços do Lu por dia (daqueles que é só abraço mesmo), uns quatro beijões e uns pares de beijinhos.

- Queria comprar um shopping com tudo dentro e ficar uma semana sozinha nele, só me divertindo! Hehehe!

- Queria um monte de coisas que o dinheiro compra, como uma lipo e os dentes mais brancos do mundo, mas meu dinheiro anda curto e me contento com greve de chocolate e de massas e pasta dental Whitening.

- Queria uns dias de férias de mim, só pra querer voltar pra mim de novo e me sentir aliviada de eu ser eu e não outra pessoa. Só pra ter certeza, sabe?! Outro dia minha mãe perguntou se eu queria ser outra pessoa. Não queria não, mas seria legal saber como é. Se hoje eu pudesse escolher, queria um dia ser o Phelps, no outro o Eric Moussambani (lá nos 15 min de fama dele) e no outro eu mesma, mas com 9 anos, na aula de natação. Depois voltaria pra mim mesma hoje e pensaria “devia nadar”.

analogia

Poeta me desculpe, mas ganhar poema de você é fácil. Você faz isso com o pé nas costas. Desculpem-me também os floristas e jardineiros, não quero rosas vindas de vocês. Assim é fácil também. Eu sei, eu sei. Entendo que o compositor esteja me achando chata e desagradável por não aceitar uma música fresquinha feita para mim, não quero. É bom ganhar um cartão decorado com pincel e aquarela, mas não vindo de um artista. Aceitaria bombons comprados por um diabético que só conhece sabores salgados e uma melodia quadrada de quem não sabe tocar guitarra. Quero coisas sinceras e palavras que tenham tido dificuldade para sair, porque o medo estava fechando a garganta e as inseguranças travando a língua, mas elas conseguiram virar frases e olhares reais. Quero vento de ventilador e não de ar condicionado. Ontem comprei um vasinho de flores para mim.

20.8.08

a algum possível novo leitor

Amigo leitor, por favor, ignore os último posts. Li o que aparece até o fim desta barra de rolagem e assustei. Passeie pelo arquivo, que está aí, no menu lateral, lá pro fim, depois do calendário humano (legal, né?!).

Tá bom, vai ler? Beleza. Sou eu mesma, fazer o quê!? Mas no geral, sou mais legal, viu... Ó, passeia pelos arquivos, você vai ver, é sério. Não vou jurar por Deus porque é pecado. Mas eu juraria se não fosse!

Então, você vem sempre aqui? Não! Óbvio que não! Você é leitor novo, desculpe a ignorância. Nossa, acho melhor me despedir, a coisa anda feia. A saúde estava capengando, muitas preocupações, sabe como é, né?! A gente não pode ser 100% feliz toda hora, e olha, eu sou do tipo feliz mesmo nos dias tristes. Verdade! É que, também, o fim do ano está chegando, meu aniversário também e ando pensativa. É isso. Adoro fazer planos! Estou com várias promessas para a listinha, e você?

Então, mas eu já ia indo embora. Então tá, fica assim. A gente se fala.

Abração, lembranças pra família!
Vou trabalhar, tem bastante coisa pra fazer por aqui. Aí não? Putz, também né... dureza. Opa, já ia começar a puxar papo de novo...!

Bom, abração,
sucesso sempre!
Thais França

ps.: ei, você vem aqui de vez em quando! Curiosidade mata, né... viu que não era pra você e leu assim mesmo! Que cara de pau!

a vida é linda depois da TPM

TPM é uma tristeza. Tudo fica cinza sem graça ou vermelho raivoso. As flores enchem a paciência e o sol é quente demais. A chuva é chata demais. O céu é azul demais. Mas ela vem todo mês e, felizmente, depois de um tempinho feito garota enxaqueca a gente (a maioria, pelo menos) volta ao normal. O otimismo tem seus três ou quatro dias de confinamento em um buraquinho pequeno, frio e escondido do cérebro, mas depois volta soberano. Ufa!

E viva as Olimpíadas! Viva o 41º lugar com 1 ouro e 5 bronze! Viva o cafézinho preto recém passado na garrafa térmica verde limão! Viva a limonada, que a gente faz, para não azedar a vida!

Estava ontem em frente ao meu prédio e ouvi duas velhinhas conversando. Uma baixinha, de vestido florido com destaque em azul e a outra um pouco mais alta, de calça de elanca e camiseta. Ambas devem estar na casa dos 70. A conversa foi mais ou menos assim:

(de vestido florido) – O que você achou da pintura do prédio?
(de calça de elanca) – Gostei, mas achei o azul apagado...
(de vestido florido) – Jura! Eu gostei, me lembrou o hospital municipal.
(de calça de elanca) – Então, as pessoas morrem lá, viu como a cor é ruim?
(de vestido florido) – Mas também tem muitas que nascem. Eu adorei!

Ou seja... qual seu referencial?

15.8.08

nem sólido, nem líquido

Sobre a mesa em L, uma bagunça generalizada. Teclado, mouse, apoio de punho, monitor 19” à frente. Caixinhas de som. Calendário colorido, porta-canetas coloridérrimo sem canetas, só um lápis, borracha, marca-texto e grampos de grampeador. Um carimbo com nome e função meio escondidinho. Uma lata de ervilha pintada de verde (é artesanato) abriga remédios para dor de cabeça e lixa de unha. Repara que aquilo é meio anti-higiênico...

Não move os braços. Um notebook emprestado ocupa quase todo espaço do lado esquerdo, onde também se encontra uma agenda sobre uma lista de ramais, que servem de apoio para o telefone preto, pesado e paquidérmico.

No espaço à direita, reservado para leitura e interação com quem senta à frente: jornal do dia, revista da semana, um guarda-chuva que deveria estar guardado há quatro dias e uma revista de quinta categoria comprada no fim de semana anterior.

Nas gavetas, papéis amontoados sem motivo, rascunhos escondidos e bisnagas de creme sem conteúdo ocupando espaço. Cada hora em um lugar, a garrafinha de água ainda tem lacre e os rins dela estão quase perdendo a função de filtrar. Talvez o cérebro também esteja em estado quase crônico de ressecamento. Uma vida medíocre é espelhada ali, abaixo dos óculos com armação nova e acima da lata de lixo ao lado da cadeira giratória laranja. Não acende a luz, liga o ventilador e fica sentindo seu estado de calefação ainda mais rápido.

13.8.08

às 14h20, no elevador

De longe notei a presença dela. Apesar de não passar de um metro e meio de altura, já era grande. Usava sandália com salto, tinha uma bolsa vermelha de verniz supermoderna e nos lábios contornados de rosa, muito gloss. Uma presilha de strass adornava os cabelos claros e um lenço de poás, o pescoço. Entrou no elevador com toda delicadeza e elegância que só uma verdadeira lady pode fazer notar e, educadamente, deu boa tarde a todos que também estavam ali, espremidos mais para o fundo. Os olhos brilhavam e percebi uma mistura de surpresa e timidez. Quando a porta se fechou e o solavanco se deu (coisa que só antigos elevadores ainda fazem com esmero) ela gargalhou e apertou firme a mão da mãe. Apesar de toda estampa, era mesmo só uma menininha que se divertia com algo novo e diferente. Com certeza, se não tivesse mais gente ali ela teria pulado, esquecendo que usava saia e que queria ser gente grande.

31.7.08

"Só um estantinho, por favor"

Não dá tempo de escrever, só de pensar, pensar e pensar. Isso é bom. Entre um intervalo e outro, o debate sobre o que é realmente importante.


"And love is not the easy thing
Is the only baggage that you can bring
Love is not the easy thing
The only baggage you can bring
Is all that you can't leave behind"

And if the darkness is to keep us apart
And if the daylight feels like it's a long way off
And if your glass heart should crack
And for a second you turn back
Oh no, be strong

(Chorus)
Walk on! Walk on!
What you got, they can't steal it
No, they can't even feel it
Walk on! Walk on!
Stay safe tonight

You're packing a suitcase for a place
None of us has been
A place that has to be believed to be seen
You could have flown away
A singing bird in an open cage
Who will only fly, only fly for freedom



(Chorus)
Walk on! Walk on!
What you got, they can't deny it
Can't sell it, or buy it
Walk on! Walk on!
You stay safe tonight

And I know it aches
How your heart it breaks
You can only take so much
Walk on! Walk on!

Home!
Hard to know what it is
If you never had one
Home!
I can't say where it is
But I know I'm going
Home!
That's where the hurt is

And I know it aches
And your heart, it breaks
And you can only take so much
Walk on!

You've got to leave it behind:

All that you fashion
All that you make
All that you build
All that you break
All that you measure
All that you feel
All this you can leave behind
All that you reason, it's only time
And I'll never fill up all I find
All that you sense
All that you scheme
All you dress-up
All that you've seen
All you create
All that you wreck
All that you hate

22.7.08

agora, vai!


dança
dança
dança
pança
comilança
esperança
logo eu subo e dou risada da balança...


Quero vê-la sorrir, quero vê-la cantar, quero ver o seu corpo dançar sem parar!

11.7.08

o ladrão



Chegou em casa esbaforido com a mochila pesada já nas mãos, fora dos ombros doloridos. Foi tirando a roupa pela casa e chutou os sapatos pra cima; o cachorro veio de encontro com o rabo abanando, brinquedo na boca, euforia. Não ganhou atenção alguma. Seu dono queria dormir. Correu pro quarto e se jogou na cama desarrumada e empoeirada, devido à janela aberta há três dias; janela que interligava a segurança de um cômodo escuro à claridade e movimento de ônibus, carros e pessoas da avenida.

Jogou-se na cama e cobriu o rosto com a coberta, como fazia em tempos nos quais seus pés ficavam longe do final do colchão. (Um tempo distante, quando medo de lagartixa era um segredo vergonhoso. “E se alguma subisse por ele durante a noite? Essas danadinhas geladas e esquisitas adoram a calada da noite, eu sei...”. A solução era cobrir-se todinho e se certificar de que o lençol não oferecia nenhuma brecha).

Pois, 100% coberto e imóvel fechou os olhos e logo dormiu. Rolou de um lado para o outro, rangeu os dentes, teve pesadelos, suou, chorou. Acordou e passou a mão no espaço ao lado. Sentia falta. Sentia falta de sua inocência e sabia que nunca mais a recuperaria. O cachorro mordeu e rasgou toda a mochila, deixando em evidência a culpa, que não o havia deixado dormir em paz. Olhou para o chão e viu os livros e discos preferidos dela ali. Vingança vã do que ela havia feito: roubado suspiros, sorrisos e coração. Ela não devolveria, ele também não. Agora, cada folha de cada livro amarelado lhe contaria uma história e cada faixa de cada disco embalaria seus momentos sórdidos. Ele tinha se tornado um ladrão para sempre. De uma vez por todas o medo de lagartixa havia sumido e dado lugar a um medo maior, o medo de fraquejar.

30.6.08

retrospectiva

Quando eu era criança eu ia a pé pra escola, corria e andava de bicicleta a tarde toda e os fins de semana inteiros pelo condomínio onde morava. Era uma rua fechada extensa e, no final dela, havia uma área de lazer com piscinas e quadra de grama. A gente ia da portaria até a quadra e da quadra até a portaria inúmeras vezes. E sem tênis com amortecedor, era de havaianas mesmo (aquelas antigas, azuis, pretas, verdes ou amarelas, sempre com branco). No meio do corre-corre brincava de pular corda, pular elástico, esconde-esconde, “baleado” (como chamam Queimada na Bahia). Não era raro eu passar mal e ter que tomar injeção de Dramin (tenho alergia a Plasil) para cessar o vômito. Mais tarde descobrimos que eu tenho prolapso na válvula mitral, o que é um probleminha sem muita importância, que não vai me matar, mas que me fez levar no bolso um atestado médico para não prática de Educação Física a vida toda. Ok, mesmo assim eu jogava vôlei na rua. E continuava ligada na tomada.

Entre 11 e 17 anos eu andava mais de 15 km por dia em terreno acidentadíssimo (quem conhece Itatiba entende o quanto o superlativo foi cabível). Quando conquistei minha carta de motorista (hoje sou pilota) e logo após entrei na faculdade e consegui um estágio, o sedentarismo poderia ter me pegado, mas resisti. Conheci as delícias de um choppinho vez ou outra, de um vinho bem descansado e, com dinheiro próprio, pude comprar inúmeras guloseimas inexistentes no meu então cardápio, graças à triagem da minha mãe. Com todo este novo mundo a meu bel prazer, poderia ter me entregado, mas não. Resisti e entrei numa academia. Comecei a trabalhar e meu trabalho me fazia caminhar bastante e, numa correria total, minhas panturrilhas tornavam-se as mais bonitas já vistas.

Tudo isso acabou. Preciso fazer alguma coisa, virei rainha do escritório sem direito AB Toner. Sim, este post ficou chato e acabou de repente. Ficou chato porque é assim que estou hoje. E ponto. Um bom dia pra você.

25.6.08

Eu quero morrer como a Ruth Cardoso

Eu quero morrer como a Ruth Cardoso, rápido, sem esperar.
Eu quero morrer e ter meu marido chorando pela morte ter nos separado. Calado por lágrimas quentes derramando um choro morno em minha presença apagada. Emudecido pela falta de meu espírito num corpo morto dentro de um caixão sem cores.
Eu quero uma morte romântica, triste e sóbria, como a de Ruth Cardoso.

Eu quero morrer com rugas semelhantes às de dona Ruth. Quero que elas representem uma coleção de feitos. Quero morrer falando com um filho, quero morrer sem tempo de me despedir. Quero morrer por meu coração ter trabalhado além da conta.

Eu quero morrer como a Ruth Cardoso, sendo eu e não primeira dama. Eu quero morrer com minha história de vida calcada em pedra. Eu quero morrer sendo sócia de uma vida conjunta, quero ser completude e relevância para mais de pelo menos meia dúzia de pessoas, sendo isso reconhecido por não ter sido metade, mas meu todo.

Eu quero morrer sem óculos, como a Ruth Cardoso. Eu quero não precisar ver a última cena. Quero só sentir o alçar vôo das asas da minha alma pelo impulso das minhas pernas.

16.6.08

Para voltar

A temperatura até que estava alta para uma tarde de meados de junho, mas a sensação térmica pedia por uma blusa de manga comprida reforçada, já que o vento bagunçava os cabelos e assoviava alto ao pé do ouvido. Entrei no carro e, como pouco gosto de fazer, fechei o vidro da minha janela. Recostei a cabeça nele e observei os pedaços de chão entrando embaixo do carro em movimento, ou, sob outra perspectiva, o carro passando por cima da rua cheia de pegadas, passos, marcas, freadas, histórias. Tanto faz. Vi bicicletas, pessoas correndo, algumas paradas também passaram. Passou um posto de combustível, uma doceria, uma lanchonete. Passava tudo quase tão rápido quanto a minha presença em cada um daqueles trechos de cidade.

O sol estava se pondo e as nuvens, que pedrentas explicavam que haveria chuva ou vento no fim do dia, também já tinham deixado claro que não iriam permitir que a bela estrela desse seu adeus com ar glorioso. Ele daria lugar para a lua (que já dividia o lado oposto do céu desafiando sua majestade) sem despedir-se formalmente, sairia à francesa. Mas, de forma tímida, como que para não desapontar, preparou uma surpresa. Quando o carro seguia por mais uma rua, que levaria para a saída da cidade, dezenas de plátanos com folhas avermelhadas pelo outono nos davam tchau. Mesmo fraco, o sol abençoou as árvores magras com uma cobertura dourada imortalizando um momento que, até então, era simplesmente uma passagem por cenários urbanos comuns e confundíveis.
Felicidade é aquele milésimo de segundo que você repara que você está no lugar certo, com a pessoa certa, na hora certa, com um frágil raio de sol iluminando seus olhos para que, além de mais brilhantes, eles sejam capazes de refletir aquela eufórica sensação de privilégio em slow motion, esquentando o mundo inteiro sem mesmo precisar se mover. O duro é que, se você não perceber este milésimo de segundo, nada fará sentido e felicidade será uma palavra que rima com caridade, maldade, ansiedade, e mentira, não verdade.

4.6.08

Dia dos Namorados


Perfumou-se, colocou uma bela saia e sapatos bem lustrados. Conferiu o presente ainda dentro da sacola. Laço amassado, desfez e refez com a fita de cetim já marcada. Não ficou bom, tirou, passou com o ferro meio morno. Laço novo. Ele chegou para buscá-la com flores. Ela entregou a caixa e ele disse ter adorado os finos lenços bordados. Foram ao cinema e ele a deixou em casa antes das 10h da noite, como impôs o pai. Dois meses depois ele se foi sem volta, e já faz mais de 50 anos. Suspira de saudades, foi seu último Dia dos Namorados acompanhada.

Escreveu um bilhetinho numa daquelas folhinhas quadradas de bloquinhos de papel de propaganda. Não gostou, amassou. Escreveu outro, mas as linhas imaginárias ficaram tortas. Amassou. Resolveu mudar também a mensagem. “Hummm, má idéia”; amassou. Deu-se conta de que estava escrevendo a lápis, "como assim?!". Amassou de novo. Quando pegou a caneta, escreveu as calculadas frases e assinou... "puxa, ficou ótimo!". Ao entregar com rosas colhidas no jardim, a moça leu: “Eu amo você. Eu amo você. Eu amo você, meu amor.”

Ele era diferente. Ele era tudo. Ela queria algo especial. Com um mês de antecedência vasculhou cada prateleira de cada loja de cada rua da cidade. Não encontrou nada. Como dar uma camisa, para alguém de olhos tão brilhantes? Como dar um isqueiro, um chaveiro, um objeto qualquer, para alguém tão sensível. “Já sei! Farei um presente com minhas próprias mãos!”. Comprou retalhos de linho branco e bege, linha azul petróleo. Cortou e costurou o tecido. Bordou as iniciais do nome dele. "Perfeito". O Dia dos Namorados seria comemorado no cinema, com Cantando na chuva, para ficarem bem pertinho, sem o pai contestar.

25.4.08

Um dia diferente no corredor esquecido

- Olá, preciso fotografar os quadros que estão no auditório do térreo, onde está a chave?
- A sala está reformando, os quadros estão embalados um a um e colocados em ordem, não posso liberá-los. Vai que você embaralhe a ordem. E além do mais é um trabalhão embalar com o jornal novamente. Você entende, senhora?
- Faremos o seguinte, você acompanha o processo para eu não correr o risco de bagunçar seu trabalho e eu não toco em nenhum quadro. Mas preciso fotografá-los. É para um projeto do prefeito e o fotógrafo está aqui; descemos em 15 minutos.

Assim que eu e o fotógrafo chegamos ao subsolo e fomos até o local combinado, um corredor mal cuidado que dá acesso à garagem e é usado por poucas pessoas, em geral funcionários de manutenção e limpeza, percebi que as três pessoas que nos esperavam sentiam-se importantes. Logo entendi: os egos inflados orgulhavam-se por estarem atendendo a uma necessidade do prefeito, autoridade máxima da cidade, mas mais importante, autoridade máxima na hierarquia respeita por eles, que estavam na base.

“Puxa, se você tivesse pedido antes a gente já preparava tudo, tirava os jornais, deixaria aqui em ordem. Dá um trabalho fazer isso!”, disse o responsável pelo almoxarifado, valorizando o serviço. Logo, uma mulher simples com crachá indicando fazer parte da equipe, e um senhor corcunda e aparentemente fraco e cansado, com a mesma insígnia no peito, começaram a trazer os pacotes. Quis ajudar, eles não deixaram. Era serviço deles. O superior ordenou que não tirassem da ordem e fossem desembalando com cuidado para que o durex não se perdesse, e pudessem ser novamente embrulhados e guardados. Era assim que ficariam até que o auditório em reforma estivesse pronto. Só então poderiam voltar a ocupar seus distintos lugares na parede, onde marcavam a trajetória de toda uma cidade.

Era quase 11h da manhã quando isso acontecia. Enquanto o fotógrafo fazia as imagens com cada quadro deitado no chão, naquele corredor acimentado, frio e visivelmente sujo, a equipe da limpeza começou a chegar para bater o cartão de ponto. Era hora do almoço deles. Ao verem o corredor abandonado, agora repleto de muito jornal amassado e os 32 grandes quadros no chão, percebi que os olhos de todos brilhavam. Algo novo acontecia ali.

Um começou a contar que conhecia tal passagem histórica relacionada àquele quadro, outro se gabava por conhecer algo mais antigo. Um deles, um dos mais antigos de casa, apontava que se parecia com uma das personalidades ali emolduradas. Outros só riam da cena. O fotógrafo, para eles, era uma personagem envolta em mistérios. O que fazia fotografando fotos? Para quê serviriam? O que ele faria com elas? Por que a atividade estava sendo feita ali, naquele corredor esquecido, longe dos mármores e revestimentos de boa qualidade que os outros todos andares do prédio ostentavam? Não demorou muito, a curiosidade foi rompida: “Pessoal, podem passar por aí com cuidado. O moço está fazendo um serviço pro prefeito!”.

Pronto! Todos queriam ajudar e logo foram colocando a mão na massa. Os que sobraram fingiam desprezo e saiam indignados com os outros, que ao invés de almoçar, estavam ali, embalando quadros em jornal velho. Pura inveja. Engoliam seco a vontade de carregar até o almoxarifado pelo menos um daqueles objetos. Os que conseguiram uma peça para embrulhar sorriam e comentavam bobeiras sobre a prefeitura, a cidade, a história, o amor pela terra, pela região. Naquele momento, o corredor esquecido, com pessoas esquecidas em suas profissões e quereres, experimentava um pouco de glória.

23.4.08

presente de aniversário


Queria poder te comprar todas as motos velozes do universo.
Queria encomendar no mercado negro a melhor guitarra e que ela viesse com um chip de aprendizado, como naquele filme.
Queria também que o note mais poderoso do mundo custasse R$ 1,99, para eu poder te comprar uns 10 de uma vez.
Queria que todo dia a gente pulasse juntos daqueles 53m de altura, pra que você gritasse o que você gritou bem alto, sempre, cada dia desafiando mais a sua garganta.
Queria muito encontrar uma lâmpada mágica e, quando esfregasse, surgisse um gênio. Eu ia pedir que nós fôssemos para uma ilha deserta pelo menos uma vez por mês, que ele conseguisse carros maravilhosos para passearmos com os cabelos ao vento e que me desse controle para eu nunca mais te fazer chorar.
Não sei o que comprar com o pouco dinheiro que eu tenho. Um disco do Legião ou dos Beatles não seria suficiente. Do Metalica seria muito anos 80, do ACDC, pelamor, não gosto.
Que nem criança fazendo desenho com lápis de cor ou dando uma foto pra mãe como se fosse o máximo, vou embalar um sorriso e te dar de presente. E ele vai se repetir todo dia, cada vez que você olhar para ele. Um dia será um sorriso tímido, outro, um sorriso bobo, outro, um sorriso aberto, outro, um sorriso malandro, outro, um sorriso sedutor, outro, um sorriso triste, para você puxar e deixá-lo feliz, à sua moda. Espero que você goste. É de todo meu coração.

carta de amor

Meu amor, eu amo você. Você estava lindo hoje. Meu coração pulou quando te vi de azul. Me desculpa não fazer o trabalho com você hoje, precisei mudar de grupo porque a chata daquela menina falou pra todo mundo que eu estava namorando com você e eu não queria que soubessem. Viu, não fica chateado. Mas também não manda bilhetinho na sala, porque eles vão descobrir que é verdade (estou mandando esse porque sou discreta). No recreio a gente se encontra na frente da 6ª A, porque ninguém fica lá nessa hora, porque fica longe da cantina.

Queria te falar mais uma coisa... Adorei quando você estava indo embora e desenhou um coração no ar! A sua mãe estava perto e não viu, foi superlegal, ninguém viu, só eu. Eu tenho certeza que a gente vai ser muito feliz e que aquela chata não vai atrapalhar dizendo pra todo mundo que sou eu quem escrevo as redações para você e é você quem faz minha lição de matemática. Eu amo você.

Viu, mais uma outra coisa. E essa é séria. Ainda não estou preparada para dar beijo de língua. Você pode esperar até o mês que vem? Aí te dou uma resposta de quando acho que farei isso. Vou procurar no Google se não é anti-higiênico. Eu sei que todo mundo faz isso, mas seilá.

Mil beijos, te amo, te quero e te desejo mais que tudo! Quero casar com você daqui 10 anos mais ou menos.

Assinado, sua namorada secreta da sua sala, 5 ª B.

18.4.08

só se fala nisso

A mãe chorou na missa, tá salva. O pai é homem, tudo bem não chorar.

“Mostra, câmera! Ela não chora, a madrasta não chora!”
Cara, pelo jeito ela vai ser presa, está em estado de choque, só esperando a sentença, com um fio de esperança de o caso se reverter.
Lógico que ela não chora!
Ô povo latino de sangue quente!
Ô urubuzaiada!
Ô sensacionalismo pobre...

Ô sexta-feira que não acaba!

1.4.08


Odeio brigadeiro, odeio os chocolates todos.
Adoro legumes e dieta, assim como azeitonas e comida chinesa, mesmo que essas coisas não tenham muito a ver com as primeiras.
Adoro axé e Paulo Coelho.
Detesto comprar roupas e viajar, me cansam!
Adoro ficar sozinha nos finais de semana.

Tá, só pra não esquecer da brincadeira do 1o de abril. Quando era criança, era uma delícia essa baboseira :)

31.3.08

Base para um filme trash dramático com uma protagonista burra

Pegou uma pá e começou a desenterrar. O calor estava imbatível e o suor logo começou a escorrer pela testa e pingava na terra pela ponta do nariz. Os pés descalços pisavam naquela terra como se não houvesse nada ali, mas sabiam que havia algo sim, e os dedos se comprimiam o máximo que podiam para que não tivessem contato total com aquele resto de algo vivo, já bem morto, ali.

O medo tomou conta e um calafrio percorreu todo o corpo de pouco mais de um metro e meio de altura e peso médio. Sabia que não era certo desenterrar o que não lhe pertencia. Sabia que não era certo desencavar aquilo. Em conseqüência, poderia ser rasgada por inteira. Mas persistia e a terra não parava de sair pela pá, e parecia que não tinha fim, e não parava de tentar encobrir o que tentava achar.

O sol se pôs e ela continuava ali, já ajoelhada, cansada, com vestido sujo e pés aconchegados num monte de terra já retirada do buraco. A luz da lua iluminou algo bem no fundo e com a pá sentiu algo rígido. Os braços não alcançavam o fundo e, desesperada, começou a cavar o entorno. Cavou por mais algumas horas e conseguiu ter contato com parte do caixão.

Suada e trêmula, abriu a parte do caixão que podia. Assim que o fez se arrependeu. Todas as ex-namoradas dele saíram gritando e rindo de forma cínica e malévola de lá e começaram a enforcá-la, a xingá-la e a caçoar dela. Umas lhe espirravam perfumes, outras a envolviam com laços de presentes, outras mais impiedosas cantava músicas e recitavam trechos de filmes especiais. De repente, o céu se transformou em uma enorme tela e todas as ex-namoradas dele projetavam os melhores momentos juntos entre as estrelas.

Enlouquecida e rasgada, não só nas vestes, mas na pele e no coração, deixou-se levar pelas rejeitadas. Juntou-se a elas. Deitou-se no buraco e se cobriu com a terra que ela mesma havia retirado do lugar. Esqueceu o tempo e misturou erroneamente o presente e o passado. Boicotou o futuro e morreu.

Impressão ruim

Entrei e procurei pela carteira com anotação 24, meu número, segundo o fiscal. Era na fileira do meio, que separava as outras quatro fileiras da sala, duas de cada lado. Logo reparei que na coluna um, linha um, parede da esquerda, havia um cara dormindo, encostado num moletom amarelo. Na mesma coluna, última posição, outro cara com idade para ser pai do primeiro também cochilava. E roncava. Ele tinha cabelos grisalhos e usava uma calça jeans notadamente desbotada, camisa xadrez surrada e sapato com sola bem, bem, bem gasta.

Girei meu pescoço e fiz um reconhecimento mais detalhado da sala. Ali, entre as 51 pessoas dispostas, apenas seis tinham menos de 35 anos – segundo minha avaliação – e quatro das outras, menos de 45. Foi deprimente. Mais ainda foi reparar que dos 51 presentes só eu e mais três pessoas não tínhamos roupas surradas e sapatos meramente funcionais como da “maioria esmagadora”, como muitos usariam a expressão.

Ser jornalista nunca foi fácil, mas é triste perceber como grandes profissionais hoje sofrem. Sofrem pela falta de mercado, sofrem pela falta de oportunidade, sofrem pelas poucas vagas destinadas à função, e desempenhada por gente que muitas vezes nem escrever direito sabe. Pior é que, neste universo inseguro, grandes jornalistas desacostumados com tecnologia se vêem chutados da área e ter no CV uma lista de prêmios de reconhecimento intelectual e anos de experiência em liderança de equipes não vale muita coisa, se não se sabe assinalar qual menu do Photoshop abre determinada gama de opções.

Sou parte dos 405 jornalistas inscritos para concorrer a uma das quatro vagas para o cargo de Editor II na Imprensa Oficial de São Paulo. Ontem fui fazer a prova e, pelo que vi, poucos dos 405 não foram. Os quatro que passarem receberão pouco mais de R$ 3 mil e ouvi muita gente, aquela gente com cabelos brancos na cabeça, comentando com colegas o desejo de conseguir “aquela bocada”, pois “salário assim tá impossível por aí”. Tudo bem que esse valor é inicial e há muitos benefícios, além do fato de todo mundo saber que é fácil encostar-se no serviço público concursado (não sei como alguém consegue achar vantagem nisso), mas, mesmo assim, não dá pra olhar a situação e se sentir confortável.

Confesso que não estudei nada e me senti "A" trouxa que gastou o valor da inscrição e ainda combustível, pedágio e horas da manhã de um precioso domingo à toa. Mas acho que valeu a pena por duas coisas: 1) eu dar mais valor para o que tenho; 2) confirmar que não sou fraca e nem burra, já que fiz sussa a prova sem me preparar.

Vivo reclamando do meu salário e do dinheiro que não sobra, mas estava bem vestida e pude chegar até lá com conforto. Tive vergonha de todos os meus reclames. Eu merecia ser a primeira peça eliminada daquela sala, que mais parecia um tabuleiro de damas, onde uma canibalizaria as outras para não ser comida. Saí com o estômago embrulhado, dor de cabeça e a imagem de uma senhora cafona e descabelada testando umas mil vezes a tinta de uma Bic velha num rascunho, antes de começar a prova. Talvez tenha dado azar e não é nada disso. Talvez não.

17.3.08

cotidiano raro

Estava subindo a rua e acompanhei uma despretensiosa cena romântica. Ouvi alguém comentando que ela é três anos mais velha que ele, mas não parece. De mãos dadas, eles atravessaram a rua e seguiram em frente bem devagar. Sorriam e cochichavam toda hora. Pareciam recém namorados. Casal de filme. Casal que juraria não existir.

Invejei a jovialidade da dupla que não se largou naquela fração de tempo ali, enquanto eu descaradamente invadia a vida alheia. Quando ele entrou na padaria e ela não conseguiu subir o degrau por causa das pernas bambas, ele não pensou duas vezes. Chamou ajuda, pegou a bengala e calmamente esperou que ela arrumasse, tímida, o pente que prendia os cabelos brancos e finos. Trêmulo, apertou a mão do jovem que ajudou sua mulher a permanecer ao seu lado naquele momento. Virou-se para ela e perguntou: “O de sempre, meu amor?”. Ela respondeu “sim, três pãezinhos e dois docinhos de coco”.

O que ninguém sabia sobre Monalisa

Vivia se depreciando. Não podia ser bonita e nem feliz. Era feliz e bonita, mas fazia de tudo para boicotar essas duas coisas. Ficava bem de azul, mas comprava só roupas vermelhas ou em tom de verde escuro, que não lhe caiam bem. Quando estava magra, se entupia de comida para obter uma forma pouco atraente.

Algumas vezes, a espontaneidade acabava com seus planos. Quando se dava conta estava sorrindo azul pra todo lado e conquistando amizades. Mas se passava por uma rua e via a alegria estampada no rosto refletida no vidro de uma janela, fechava a cara, puxava a boca para baixo e fazia cair os ombros. Um dia se perguntou o motivo daquela novela que só tinha uma personagem: ela. Qual seria o desfecho daquele drama? Não sabia a resposta e tinha medo de tentar entender.

Em segredo, à noite, depois que a cidade adormecia, entre perfumes e pincéis, ela se preparava para dormir. Sentia-se linda com o delineador bem traçado e o rímel que alongava os cílios. Penteava os cabelos dividindo-os ao meio e vestia seu melhor vestido. A cama vazia exteriorizava um vazio interno profundo e de mau hálito. No dia seguinte, antes de todos, acordava, lavava o rosto e punha-se feia. Até que um dia Leonardo a viu. E seu sorriso tímido, tentando disfarçar o que realmente ela era, entrou para a história.

7.3.08

já que não posto de fds...


Um feliz Dia Internacional da Mulher cheio de liberalismo americano!
Abraços capitalistas também para as feministas!
Eeeeee! É o nosso dia! Uhuhuhu!

Boushit!

5.3.08

a bailarina


A bailarina era uma bailarina comum
Mas quando colocava a música mais querida para tocar
A bailarina rodopiava em câmera lenta
Desafiando a poeira que brilhava no ar
Rodava e rodava e todas as luzes convergiam para ela
Que refletia raios brilhantes iluminando os olhos de quem a via dançar
A bailarina descortinava os cabelos enquanto ficava na ponta dos pés,
E distribuía sorrisos satisfeitos e doces
Com ternura, movimentava-se toda e toda ela se entregava ao vento
A bailarina fazia gestos delicados e
Era tão linda, tão meiga e tão pura que machucava os mais brutos com sua doçura
Ela cobria o salão desenhando elipses perfeitas
Ela deixava um rastro de perfume suave, que era soprado pela brisa
Ela tonteava as pessoas e tonteava os sons e tonteava o mundo todo
Até que
Quando ela apertava o stop
E a música mais querida parava
Ela voltava a ser uma bailarina comum.

27.2.08

lembrando da morte.

Não é sempre, mas quando recebo uma notícia de morte lembro do meu avô. E lembro do meu amigo Maneco. Um morreu velho, mas com coração jovem. O outro era jovem e tinha um coração de moleque. Nenhum dos dois deveria ter ido a meu ver, mas o julgamento não passou por mim, claro.

Neste final de semana faz três anos que o segundo se foi. Menos de uma semana antes da morte, meu amigo me dizia estar apaixonado e que felizmente tinha encontrado uma pessoa especial. Também estava feliz profissionalmente e só se arrependia de trabalhar demais e não ter tempo para pedalar. Adorava trilhas de bike. Era gordinho, mas as panturrilhas seguravam a onda na hora das subidas do acidentado relevo da cidade onde morava. A última vez que o vi, antes da morte, estava no hospital e, por uma fresta do quarto, eu e mais duas xeretas vimos uma enfermeira chacoalhando sua cabeça para o comprimido descer garganta abaixo. Cena deprimente, cena que me fez chorar e rezar para que, se ficasse vivo, não tivesse que tomar remédios daquele jeito. Na verdade foi claro que já estava morto.

A última vez que vi meu avô vivo não me lembro. Faz tempo. Quando morreu já não estava vivo há pelo menos um ano e meio. Não lembrava mais de ninguém e, se lembrava, não tinha forças para dizer nada e nem para acenar ou gesticular qualquer coisa. Tinha escaras pelo corpo e parecia bem mais velho do que era. Quando era vivo, era muito vivo. Assobiava, cantava, contava piadas, adorava caminhadas e esporte. Quando o câncer e seus olhos verdes já estavam cinzas, foi um alívio. Deve ser assim pra todos os que ficam. A morte é implacável e também dói em quem gosta dos que estão morrendo.

E pior. Ela, do nada, nos lembra de sua soberana existência.

26.2.08

Estorietas de pessoas reais*

Ele entrou no lugar de um senhorzinho que se aposentou com o máximo de idade e de anos possíveis trabalhando em um mesmo lugar. Todos estavam acostumados a pedir bem alto o número do andar quando entravam no elevador e não foi fácil acostumar com um substituto tão mais jovem e com a audição tão perfeita. Bastava entrar e falar discretamente “quinto andar” ou “quarto” e ele acionava o botão. Quem mais gostou foram as meninas de 18 a 22 anos, estagiárias ou recém formadas, que ocupavam mesas pouco espaçosas ao longo dos milhares de corredores do prédio. Ele era loiro, de olhos azuis, meio cheinho, do tipo fortinho, e todo malandro. Percebia que fazia sucesso entre as moças que haviam recentemente abandonado a fase teen e distribuía sorrisos cariocas. Sempre ganhava um café, um pão na chapa ou um chocolate quente logo cedo. Assim, economizava o troco diário do café da manhã e comprava balas de qualidade. Recheava os bolsos e usava os docinhos como prévia para colecionar os telefones das fãs. Se deu bem.


Ela vivia de mau humor. Chegava no quartinho, pegava brutamente o equipamento e saía pisando com força, encerando com força, maldizendo cada centímetro de chão com força. A enceradeira fazia um barulho que perturbava e era por isso que preferia limpar os vidros das largas e inteiriças janelas do 11º andar, onde ficava seu cartão de ponto. Todas as outras colegas tinham medo da altura, da janela cujo vidro começava no chão e do vento que soprava forte sempre ali, mesmo no dia mais quente de verão. Ela se divertia com o limpa vidros e gostava de imaginar-se desafiando a morte. Aquele era seu momento de prazer. Quando terminava, fechava a cara novamente e saía resmungando. Não era amiga de ninguém, não sorria para ninguém. Todos a achavam chata, ranzinza e má. Os homens falavam de boca cheia: “deve ser uma mal comida, isso sim”. E era. No final do expediente ia para casa cuidar do marido tetraplégico, do filho drogado e das gêmeas que iam de mal a pior na escola.


Ela adorava segundas-feiras. Preferia a qualquer sábado ou a qualquer domingo. Um dos motivos é que não se sentia bem usando biquíni ao lado das primas magras na chácara da avó, onde passavam o fim de semana religiosamente, o outro era João. O menino, dois anos mais velho, era repetente e o mais popular da sétima série. Quando não estava na diretoria, estava na quadra da escola jogando basquete. Eles não tinham muito contato, mas quando a professora avisava sobre provas de matemática... Ah! Maravilha! Era certo que João a procuraria. E as provas eram sempre às segundas. No dia-a-dia ele a cumprimentava e não colocava bilhetes nas costas, como fazia com outras meninas, o que para ela era um tratamento especial. Quando passava e escutava os meninos rindo e dizendo “olha lá a gordinha!”, ela fingia não ouvir, mas de canto de olhos reparava se ele estaria por lá. Nunca estava; ele não ria dela. Um dia o ano acabou. As férias viraram um fim de semana infinito e as segundas-feiras não chegavam nunca. Quando voltou às aulas, João não estava lá. Mudara de escola e de cidade sem se despedir. Ficou triste, sentiu-se traída. Emagreceu e virou uma revoltada patricinha que agora entrava no colegial.






* Este formato eu “roubei” do Fábio Chiorino, que escreve no Haja Saco às terças-feiras. Conheça-o e os outros colegas também. São muito bons.

22.2.08

ô coisinha tão bonitinha do pai

A expressão "mãe coruja" devia mudar para "mãe lêmure". Olha que filhote mais esquisitinho...



Foto mostra pela primeira vez um filhote de Lêmure de quatro meses de idade nascido no zôo de Paris, na França. O Lêmure é um primata de hábitos noturnos, encontrados na ilha de Madagascar, na África.
(Fonte: AFP)

20.2.08

O dia que uma drag queen colou em mim

Semana passada vivi um dia tão fútil quanto divertido. Se não bastasse eu entrar na academia decorada com florzinhas e borboletas, com mulheres fazendo exercícios em aparelhos com estofados revestidos em corino rosa e lilás, passei por elas e fui direto a um banheiro transformado em camarim.

Afastei umas plumas pretas e outras brancas que estavam logo na porta e sentei num banquinho esperando minha vez. Duas mulheres já estavam maquiadas e sorriam muito, se olhando no espelho e se sentindo lindas. O maquiador, um gay alto astral (“lóóóógico”, pras duas características dele), olhou para mim e perguntou: “Você é a próxima, baby?”. Eu disse que sim. Ele deu um pulinho e falou: “Vou adorar maquiar essa pele de pêssego!”.

Em seguida, começou a contar que seus pincéis eram Mac e que o batom X rosinha claro cintilante ficaria perfeito em mim. Dei uma risadinha e falei que queria fazer as fotos com uma maquiagem bem branca e um batom bem escuro, para ficar diferente. Ele espantou e mandou: “Nãoooo, baby! Está louca! Vamos fazer algo bem light pra você ficar beeemmmm linda! Vou prender sua franja com umas presilhinhas e ficará show!”.

Eu bem que quis confiar nele, mas, juro, não deu. Minutos depois, a moça que estava na minha frente saiu da cadeira de "diva" e eu ocupei o lugar. Tirei os óculos, fechei os olhos e o maquiador começou a passar uma super massa corrida no meu rosto (pra quê? Eu não tinha uma pele de pêssego?). Depois, agarrou um estojo de sombras com uma expressão facial incrível e começou a pintar meus olhos. Olhos dele arregalados. Rímel “curvas intensas” para dar “mais charme” nos meus... “delineador de alta fixação” para não borrar, não marcar, não sair, não escorrer.

As mulheres já maquiadas e duas outras que estavam na fila olhavam para mim, que estava ali de olhos fechados e pescoço pra cima, e comentavam entre elas que eu estava ficando linda. Gostei daquilo. Estava achando que tinha acabado quando o maquiador me disse: “Pronto! Vamos agora dar acabamento!”. Aí, o franzino mestre dos pincéis Mac passou um blush com “toque bronzeado da Amazônia” (???), pintou meus lábios com o batom rosa “super-ultra-perfect” para mim e gritou: “Linda! Arrasou!”.

Feliz, achando que me transformara numa bela modelo de capa de revista internacional, me olhei no espelho e não me vi, mas uma viçosa drag queen!

Tá. Ri muito. Olhei para as já maquiadas e elas estavam com maquiagens idênticas a minha. Mesmas cores, mesmo batom rosa super-ultra-perfect. Como já havia espiado o resultado do book fotográfico de outras, e havia gostado muito, dei uma aliviada e pensei que “devia ser maquiagem especial para a luz do estúdio e que tudo daria certo”.

Em uns minutinhos, já era minha vez de encarar os flashes. Entrei tímida no estúdio e aos poucos fui me soltando. Pra começar, quis colocar “um pouco de mim ali”, como sugeriu o fotógrafo, como se eu não fosse eu (teria ele percebido que não era eu, mas uma drag queen que havia colado em mim?). Soltei as presilhinhas, baguncei a cabeleira, puxei a franja pra frente. Todas as mulheres tinham as poses dirigidas pelo fotógrafo, mas eu teria as minhas poses! As minhas caras e bocas! Legal!

Comecei com nível begginer de dificuldade e fiz cara de louca. Depois, progredi na escala e fiz cara de boba. Seguiu cara assustada, cara de menininha do interior passando frio, cara sexy (com direito a ventilador para propaganda de shampoo), cara de má, cara de pilantra, cara de sofrida, cara de feliz, cara de muito feliz, cara de sapeca, cara de pensando na vida, cara de personal trainner (com a camisetinha da academia), cara de sou a Vera Fischer no auge.

Saí de lá me achando uma diva de sucesso e não mais uma drag queen. No dia seguinte veria o resultado e poderia comprar fotos extras (a academia daria só uma com a camisetinha deles). Pensei “puxa, isso vai sair caro. Vou me controlar e escolher no máximo dez, dependendo do preço...”.

Dia seguinte fui correndo ver o meu book “ma-ra-vi-lho-so”, como me garantira o maquiador. Para minha felicidade, das mais de cem, gostei de apenas três fotos, sendo que uma delas estava com um filtro roxo e preferi não comprar. Quem fez as caras e bocas foi a drag queen... eu não estava enganada! Uma delas ficou boa e comprei porque a blusa azul deu um contraste legal com o batom rosa super-ultra-perfect. Os olhos não apareciam (ufa! nada de drag). Podia ter ficado triste, mas saí me achando incrível: me livrei da drag que colou em mim no dia anterior, não precisei gastar com várias fotos extras (descobri que cada uma sairia por R$ 52) e minha pele continua boa. Sem massa corrida, ela realmente parece um pêssego! Oh!

19.2.08

textinho da mamãe

Devo meu gosto pela escrita e leitura à minha mãe. Além de sempre preferir suspenses e bons autores para companhia, ela vez ou outra escreve algo. Fazia tempo que não lia nada que não fosse um discurso para alguém, uma palestra, uma oratória. Eis que recebo por e-mail um textinho muito bonitinho. Despretensioso, simples, curto. Achei uma graça. Está aí, ó:




Aos poucos, como se tivesse dificuldade para avançar, ela deu um passo a frente, perturbada, pois não era de seu feitio ser tão curiosa. A estranha sensação de estar interrompendo algo muito íntimo fez com que ela tivesse a vontade de voltar correndo e novamente esconder-se debaixo da cama. Mas, não, ela não iria fazer isso, afinal, era a primeira vez que a cena se desenrolara na frente dela e não poderia passar em branco. Ela deu voltas, se aproximou devagarzinho, observou, esticou-se o máximo que pode e espiou.

É aí, então, que seu coração se acelera com o movimento brusco e, com susto, ela se desprende do chão e corre em direção ao nada, fugindo do desconhecido, sonhando acordada com o aconchego dos braços que ela ama. Mas o barulho na sala continua. A curiosidade volta com força total e, numa carreira graciosa, ela se atira sobre as pombinhas que invadiram nossa sala de jantar e abana o rabo satisfeita.

é o fim...

- População de Kosovo abre os olhos e se vê construindo (enfim) um país já em pé de guerra;
- Fidel renuncia antes de completar Bodas de Ouro com Cuba;
- Bush dança mexendo o pescoço tipo Fat Family, na África;
- Folha publica editorial na capa, continuando a guerra fria que envolve processos, fanáticos, Edir Macedo e seu cofre do Tio Patinhas;
- Reinaldinho ex-Fenômeno estrupia joelho e em menos de uma semana nem sente mais dor;
- Lula acha que todo mundo acredita que ele quer investir na base da Antártida só para pesquisas...


Agora me diz... o mundo tá acabando?

13.2.08

se

Se você fosse um peixe eu moraria à beira mar, para não ter que te colocar num aquário.
Se você fosse um passarinho, eu construiria um viveiro enorme e lindo e deixaria as portas abertas para você entrar e sair quando quisesse.

Se você fosse um cachorro não cortaria suas orelhas. E eu compraria mimos e pasta de dente com gosto de carne. Você teria uma casinha de madeira bem espaçosa e eu daria comida escondido, quando você enjoasse da ração. Se você fosse um gato eu compraria uma caixa de areia em forma de coração. Você teria um novelo de lã novo sempre para brincar e não me aborreceria se você só aparecesse na hora das refeições.

Por sorte você não é um bichinho de estimação e nem cabe num tupperware, para eu te colocar na geladeira e te conservar pra mim. Por sorte você também não é planta, para eu matar de tanto colocar água, com medo que você morresse de sede. Por sorte você não é um menininho, para eu ter que te levar pela orelha até a casa da sua mãe. Você é um homem. E agora vai tocar violão pra mim.

sem boicotes


Ela só tinha medo de perder quando achava que tal coisa era realmente valiosa. Caso contrário, apostava na roleta russa, com certo receio da arma, mas num rompante de fôlego e coragem sempre apertava o gatilho na hora que titubeava.

Não era à toa, era um tipo de teste na linha do "se for pra ser, a bala não vai matar” ou “se for para machucar, que a bala perfure e exploda logo com tudo, diminuindo o tempo de espera do fim”.

Era sempre assim, mas todo sempre tem exceções. A última exceção tinha acontecido há muito tempo, depois, numa segunda possibilidade de aparecer, passou por cima e pegou dois revolveres, para intimidar a exceção. Deu certo e ela não apareceu.

Mas, eis que surge um novo cenário. Eis que a exceção aparece. A cautela. Agora, enquanto ela beija o céu, espera que alguém a ataque pelas costas. Mas se segura e não lança mão do artifício que oferece chances de ser letal. Não quer que seja. E tem medo.

Dorme e sonha com o carro roubado, a família sumida, o emprego tomado, as plantas sem flores no quintal. Quando acorda, segura firme nas mãos a chave que abre o cadeado onde guarda a arma. Não quer levar mão da roleta russa. Não quer arriscar. Quer continuar a beijar o céu. E se ele se fechar, bem, é melhor se preocupar só depois.

11.2.08

o post da Dani

Estar longe de tudo e de todos nos possibilita sentir coisas verdadeiras. De quem eu realmente gosto? Do que realmente sinto falta? O que não faz a menor diferença? O que achava essencial e vejo que é desnecessário? Quem eu colocaria num potinho para guardar pra vida inteira?

Hoje conversei com uma pessoa essencial. Conversei não, troquei e-mail. E esse não conversar cara-a-cara, ao vivo e a cores fez muita falta. E-mail supre carências básicas, num grau de 0 a 10, 4, sendo bem otimista. Num parâmetro de 0 a bosta (bosta sendo = 10), o número sobe e vai pra 9 tratando-se de qualidade. Conversando pessoalmente um assunto puxa outro, o que por e-mail é complicado, a menos que se fiquem horas dando “enviar e receber”, mas não tem a expressão facial e todos os outros elementos de um contato teti-a-teti, né. Ruim.

Faz anos (isso, anos) que devo um post para minha amiga Danizinha. Hoje ela entrou no blog e ficou com ciuminho de alguns nomes citados em um post antigo, já expliquei o que aconteceu. Mas nada, nada muda o fato de a conversa com alguém tão especial ter sido feita por meio de teclas e ondas. É aí que me questiono muitas coisas. É aí que tenho súbita vontade de explodir tudo e assassinar o Bill Gates. Mas isso não resolveria. Aliás, não ia adiantar nada. E eu ainda ficaria sem emprego, pois trabalho nisso. Na net.

Não, não precisa me deixar um comentário, me ligar ou mandar um e-mail explicando as vantagens da WWW. Eu sei. As conheço bem. Mas que saudade de conversar com a Dani esticando o pescoço, roubar batatas fritas do prato dela no almoço, comer os bolos da mãe dela. Saber de detalhes do dia-a-dia que por e-mail não dá. Não rola. Não atende a demanda.

Queria fazer poesia, queria escrever algo bonito pra Danizinha. Mas ela vai ter que esperar mais (mais um ano?). Ando feliz com a vida, revoltada com a distância de bons amigos e fadada a escrever algo quase homossexual. Por isso, parei por aqui. Abaixo, só pra Dani.

Saudade Dani. Gipeta manda lembranças.
Aqui em São José estão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock´n roll
Uns dias chovem noutros dias bate sol
Mas o que eu quero te dizer
É que você faz falta pra cara... opa, pra caramba!

Beijão.

7.2.08

A casa da vó


No carnaval eu não corri atrás do trio e nem fiz trenzinho no salão. Não vesti fantasias e nem máscaras. Fui pro meio do mato do jeito que eu sou. Com sapato de verniz.

Claro que mato não é meu lugar e o sapato de verniz teve que ser lavado duas vezes. Atolei na lama e no esterco também. Na primeira, meus dedos sentiram o geladinho da terra úmida quando a lama entrou pela abertura da frente do sapato. Na segunda, por sorte, só dei uma escorregada. Aí, ganhei um tênis velho emprestado e pude adentrar pelo mato alto, que escondia insetos e outros bichos. A dona do tênis até já foi picada por cobra por lá.

Atravessando um pequeno trecho do mato pude ver um vale lindo. Estava no alto de uma montanha, em frente à casa onde morou a avó do meu namorado. Em frente a uma casa que guardava tantas lembranças quanto as teias de aranha que hoje tomam conta dos cantos.

O local está abandonado e ao entrar pela construção antiga e rústica, com tinta branca nas paredes e batentes azuis, não houve como não reparar na escuridão. Tudo vazio, tudo morto, tudo escuro. “Dá até dó. Uma judiação”, alguém comentou. Ao abrir as janelas, a luz entrou e clareou o que um dia foi uma sala de contar histórias, o que um dia deve ter reservado um sofá para aconchego e guardado brinquedos no chão.

A luz entrou, mas não clareou tudo. Clareou só o que se podia ver. Estava ali, mas não clareou o que um dia foi e estava na memória das pessoas que me apresentavam “a casa da vó”. Como a terra que entrou pelo meu sapato e todos puderam ver a sujeira encobrindo o verniz, mas só eu senti a lama úmida entre meus dedos, só eles sentiram a falta de calor daquele lugar que um dia guardou o sol.

Fugindo dos ‘’ante’’


Ando com uma preguiça para escrever absurda. Às vezes, geralmente quando pego um trecho maior que 15 minutos de carro, me vêm algo em mente, mas quando chego à frente do micro para escrever, tudo se esvai. Desfaz-se feito as nuvens que teimo em querer acreditar que são de algodão.

Um colega deixou por aqui o conselho de eu arranjar um “muso inspirador”, mas, sabe, acho que é porque arrumei um que não ando conseguindo escrever nada.

De fato, a melancolia, a tristeza e a solidão são grandes fontes de inspiração. A felicidade também é, mas como já sou piegas, se eu me ativer a este mote, o blog terá que mudar. Vou ter que colocar um fundo cor-de-rosa e ninguém conseguirá entrar mais aqui sem sentir açúcar na boca e coçando os olhos. E, na boa, isso não é legal. Enjoa, haja Dramin.

Então é isso. Por sorte ando feliz e muito feliz. Mas meu muso inspirador acabou com o blog! Vou me exercitar incorporando outros ‘’eu’’ e também aprender a escrever sobre coisas boas sem ser maçante, pedante ou irritante. Meu desafio agora é acabar com os ‘’ante’’, antes que o No mezanino seja fechado por placas de madeiras escuras com pregos grossos e enferrujados.

25.1.08

tá feio de ver...

O elefante cinza tinha saudade de quando era um elefante azul e chamava atenção das elefantinhas cor-de-rosa da selva. Hoje, sente-se um enorme elefante branco, sem utilidade nem respeito. Uma coisa e não mais um ser vivo. Um objeto e não mais de admiração, mas de desprezo.

Nah, pra onde vou com essa de elefante? Quem gosta de elefante? Eu mesma prefiro zebras e girafas, leões, elefante é desajeitado e... cinza! Vou escrever então de pessoas. Sim, porque, sendo uma pessoa, devo conseguir escrever algo mais decente sobre, ou que, pelo menos, tenha experimentado para poder sair algo coeso. Mas falar do que? Continuo com brancos preguiçosos. Vou é falar de nada. O como é bom não fazer nada e não se preocupar com páginas em branco, linhas sem letras, palavras com todos os acentos, pingos nos "i" e "t" cortadinho. Isso, vou abordar o "nada".

“Nada é bom, nadar também.” Tá vendo? Tá fogo! Não sai. Até o ano passado eu sentava na frente do micro sem nada em mente, olhava pro word e a estória baixava em mim e eu ia escrevendo, sem nem saber o fim, fluía! Agora... agora nada. E “nada” sem graça.

Me rendo. A preguiça internética ainda não me abandonou. Semana que vem eu tento de novo. Juro.

22.1.08

renovação


Sobras
Nacos de sujeira e de nada
Que um dia foi farto e
Sobra
Pedaços de mim com destino certo
Lixo
Lava com sabão
Deixa o sol esquentar
E celebra o que continua inteiro, mesmo mutilado.

14.1.08

Everything's gonna be alright

Volto hoje ao trabalho e só ontem fiz a manjada retrospectiva de 2007 e projetei meus anseios para este ano. Antes não deu tempo ou não quis ou fugi ou fingi achar balela (e é).

Tá tudo ainda entalado na garganta, mas há gritos mudos nas extremidades do corpo todo. Sorte que beijei na boca na virada. E que virada. E que bons dias de não descanso andando de lá pra cá. Delícia.

É isso aí, mais 360 e poucos dias para vivermos e morrermos mais um tiquin. Mais um emoldurado de 12 meses para procurarmos feriados (são poucos em dias úteis neste ano). São horas e horas pros ponteiros dos relógios darem voltas e infelizmente é a pilha que acaba e não a corda que temos que girar. Tempos modernos, tempos de liquidez em tudo. Dias quentes, vida que se esvai. E assim vai até 31-12.

Um tanto de angústia a todos e que muitos estalos de felicidade neste vamoscomeçartudodenovo(atéoanoquevem). Vai dar tudo certo. O copo está meio cheio.

Beijinhos!