27.8.08

às vezes...

Às vezes dá vontade de correr, correr sem parar, pulando obstáculos, costurando vias, alternando estrada de terra, asfalto, paralelepípedo, mármore escorregadio. Chão liso de shoppings ou de grandes supermercados, fechados para limpeza, cheios de sabão. Dá vontade de correr e se jogar ali, para a espuma ajudar a ir escorregando pra frente. Medida bem humorada de criança que quer rir, sem se importar em molhar a bunda.

Às vezes dá vontade de chorar, chorar muito mesmo, exageradamente como tudo que acontece naquela propaganda do Novo Fiesta, que o pessoal fala “tudo bem!”. Chorar até as lágrimas acabarem, até o rosto ficar molhado e o pescoço melado. E as roupas respingadas. E as mãos cheias de rímel e lápis preto. Sabe aquele choro que depois vira risada, risada da própria tragédia? Então, às vezes dá vontade de ter tragédia só pra rir da comédia do fundo do poço.

Às vezes também da vontade, sabe do quê? De andar sem sapato. Não dá? Às vezes bate uma vontade de ficar descalça e sentir o geladinho do chão! Dá vontade de procurar imperfeições no piso e senti-las com os dedos dos pés. Dá vontade de fazer todo mundo ficar assim e jogar os sapatos do alto de uma janela bem alta, e ficar olhando o que vai acontecer com eles quando terminarem a queda livre. Ou então, dá vontade de arrancar e jogá-los na pista, em alta velocidade e dirigir descalça. É gostoso sentir os dedos nos pedais. É legal sair com a sola do pé suja.

Às vezes dá vontade de envelhecer para virar aposentada e curtir cinema de graça, teatro, andar de ônibus pela cidade à toa, ouvindo as conversas dos outros. Às vezes dá vontade de ser criança de novo e poder fazer absurdos sem ninguém achar anormal, só, no máximo, levar bronca por ter saído da linha. Às vezes dá vontade de ser pipa e ficar voando no céu. Mas aí, dá vontade de ser passarinho e ser pipa perde a graça, apesar do charme. Quando bate a vontade de ser passarinho é uma gostosura. O cenário é entardecer com pôr-do-sol e um ventinho refrescante sopra no rosto. O cheiro de eucalipto vem junto com a vontade de ser passarinho sempre voador.

Às vezes dá vontade de tomar banho na bacia de alumínio da minha avó e ficar jogando água nas pessoas que passam, mas só meus pés cabem nela hoje em dia. Poderia ser ruim, mas realizaria três vontades de uma vez: a de voltar a ser criança, a de ficar descalça e a de ser passarinho, porque, para isso, é só fechar os olhos e ficar quietinha. Qualquer dia vou experimentar.

26.8.08

pensando em quereres ...

- Quero ter um apartamento com pouca parede e uma bela varanda numa rua larga/avenida arborizada (não tem problema ter barulho, mas tem que ter luz ambiente bacana contrastando com as folhagens que deverão formar um corredor dividindo as mãos da rua larga/avenida).

- Também quero um New Beatle amarelo (me dei conta que é meu preferido depois do Mini – nada acessível – no fim de semana. O marido da minha amiga quer que ela compre um e ela está titubeando... estou trabalhando para ajudar a colocar a cabeça dela logo no lugar e ela aceitar a idéia).

- Quero poder escrever bem em algum lugar, quero ser cronista um dia. Mas de verdade, e nacionalmente reconhecida. Ou mais.

- Sempre quis um irmão gêmeo, mas isso sempre foi impossível e desde cedo aprendi que existem coisas que estão além do nosso alcance e, as que não estão, precisam de uma forcinha para serem conquistadas. “Tamoaê”.

- Queria que meu cabelo estivesse como há uns meses, antes de eu cortar. Mas eu tenho certeza que se eu não tivesse cortado estaria marcando horário no salão ou já teria cortado e daqui uns meses teria me arrependido, ou seja: ok.

- Queria pelo menos dois abraços do Lu por dia (daqueles que é só abraço mesmo), uns quatro beijões e uns pares de beijinhos.

- Queria comprar um shopping com tudo dentro e ficar uma semana sozinha nele, só me divertindo! Hehehe!

- Queria um monte de coisas que o dinheiro compra, como uma lipo e os dentes mais brancos do mundo, mas meu dinheiro anda curto e me contento com greve de chocolate e de massas e pasta dental Whitening.

- Queria uns dias de férias de mim, só pra querer voltar pra mim de novo e me sentir aliviada de eu ser eu e não outra pessoa. Só pra ter certeza, sabe?! Outro dia minha mãe perguntou se eu queria ser outra pessoa. Não queria não, mas seria legal saber como é. Se hoje eu pudesse escolher, queria um dia ser o Phelps, no outro o Eric Moussambani (lá nos 15 min de fama dele) e no outro eu mesma, mas com 9 anos, na aula de natação. Depois voltaria pra mim mesma hoje e pensaria “devia nadar”.

analogia

Poeta me desculpe, mas ganhar poema de você é fácil. Você faz isso com o pé nas costas. Desculpem-me também os floristas e jardineiros, não quero rosas vindas de vocês. Assim é fácil também. Eu sei, eu sei. Entendo que o compositor esteja me achando chata e desagradável por não aceitar uma música fresquinha feita para mim, não quero. É bom ganhar um cartão decorado com pincel e aquarela, mas não vindo de um artista. Aceitaria bombons comprados por um diabético que só conhece sabores salgados e uma melodia quadrada de quem não sabe tocar guitarra. Quero coisas sinceras e palavras que tenham tido dificuldade para sair, porque o medo estava fechando a garganta e as inseguranças travando a língua, mas elas conseguiram virar frases e olhares reais. Quero vento de ventilador e não de ar condicionado. Ontem comprei um vasinho de flores para mim.

20.8.08

a algum possível novo leitor

Amigo leitor, por favor, ignore os último posts. Li o que aparece até o fim desta barra de rolagem e assustei. Passeie pelo arquivo, que está aí, no menu lateral, lá pro fim, depois do calendário humano (legal, né?!).

Tá bom, vai ler? Beleza. Sou eu mesma, fazer o quê!? Mas no geral, sou mais legal, viu... Ó, passeia pelos arquivos, você vai ver, é sério. Não vou jurar por Deus porque é pecado. Mas eu juraria se não fosse!

Então, você vem sempre aqui? Não! Óbvio que não! Você é leitor novo, desculpe a ignorância. Nossa, acho melhor me despedir, a coisa anda feia. A saúde estava capengando, muitas preocupações, sabe como é, né?! A gente não pode ser 100% feliz toda hora, e olha, eu sou do tipo feliz mesmo nos dias tristes. Verdade! É que, também, o fim do ano está chegando, meu aniversário também e ando pensativa. É isso. Adoro fazer planos! Estou com várias promessas para a listinha, e você?

Então, mas eu já ia indo embora. Então tá, fica assim. A gente se fala.

Abração, lembranças pra família!
Vou trabalhar, tem bastante coisa pra fazer por aqui. Aí não? Putz, também né... dureza. Opa, já ia começar a puxar papo de novo...!

Bom, abração,
sucesso sempre!
Thais França

ps.: ei, você vem aqui de vez em quando! Curiosidade mata, né... viu que não era pra você e leu assim mesmo! Que cara de pau!

a vida é linda depois da TPM

TPM é uma tristeza. Tudo fica cinza sem graça ou vermelho raivoso. As flores enchem a paciência e o sol é quente demais. A chuva é chata demais. O céu é azul demais. Mas ela vem todo mês e, felizmente, depois de um tempinho feito garota enxaqueca a gente (a maioria, pelo menos) volta ao normal. O otimismo tem seus três ou quatro dias de confinamento em um buraquinho pequeno, frio e escondido do cérebro, mas depois volta soberano. Ufa!

E viva as Olimpíadas! Viva o 41º lugar com 1 ouro e 5 bronze! Viva o cafézinho preto recém passado na garrafa térmica verde limão! Viva a limonada, que a gente faz, para não azedar a vida!

Estava ontem em frente ao meu prédio e ouvi duas velhinhas conversando. Uma baixinha, de vestido florido com destaque em azul e a outra um pouco mais alta, de calça de elanca e camiseta. Ambas devem estar na casa dos 70. A conversa foi mais ou menos assim:

(de vestido florido) – O que você achou da pintura do prédio?
(de calça de elanca) – Gostei, mas achei o azul apagado...
(de vestido florido) – Jura! Eu gostei, me lembrou o hospital municipal.
(de calça de elanca) – Então, as pessoas morrem lá, viu como a cor é ruim?
(de vestido florido) – Mas também tem muitas que nascem. Eu adorei!

Ou seja... qual seu referencial?

15.8.08

nem sólido, nem líquido

Sobre a mesa em L, uma bagunça generalizada. Teclado, mouse, apoio de punho, monitor 19” à frente. Caixinhas de som. Calendário colorido, porta-canetas coloridérrimo sem canetas, só um lápis, borracha, marca-texto e grampos de grampeador. Um carimbo com nome e função meio escondidinho. Uma lata de ervilha pintada de verde (é artesanato) abriga remédios para dor de cabeça e lixa de unha. Repara que aquilo é meio anti-higiênico...

Não move os braços. Um notebook emprestado ocupa quase todo espaço do lado esquerdo, onde também se encontra uma agenda sobre uma lista de ramais, que servem de apoio para o telefone preto, pesado e paquidérmico.

No espaço à direita, reservado para leitura e interação com quem senta à frente: jornal do dia, revista da semana, um guarda-chuva que deveria estar guardado há quatro dias e uma revista de quinta categoria comprada no fim de semana anterior.

Nas gavetas, papéis amontoados sem motivo, rascunhos escondidos e bisnagas de creme sem conteúdo ocupando espaço. Cada hora em um lugar, a garrafinha de água ainda tem lacre e os rins dela estão quase perdendo a função de filtrar. Talvez o cérebro também esteja em estado quase crônico de ressecamento. Uma vida medíocre é espelhada ali, abaixo dos óculos com armação nova e acima da lata de lixo ao lado da cadeira giratória laranja. Não acende a luz, liga o ventilador e fica sentindo seu estado de calefação ainda mais rápido.

13.8.08

às 14h20, no elevador

De longe notei a presença dela. Apesar de não passar de um metro e meio de altura, já era grande. Usava sandália com salto, tinha uma bolsa vermelha de verniz supermoderna e nos lábios contornados de rosa, muito gloss. Uma presilha de strass adornava os cabelos claros e um lenço de poás, o pescoço. Entrou no elevador com toda delicadeza e elegância que só uma verdadeira lady pode fazer notar e, educadamente, deu boa tarde a todos que também estavam ali, espremidos mais para o fundo. Os olhos brilhavam e percebi uma mistura de surpresa e timidez. Quando a porta se fechou e o solavanco se deu (coisa que só antigos elevadores ainda fazem com esmero) ela gargalhou e apertou firme a mão da mãe. Apesar de toda estampa, era mesmo só uma menininha que se divertia com algo novo e diferente. Com certeza, se não tivesse mais gente ali ela teria pulado, esquecendo que usava saia e que queria ser gente grande.