O difícil não é esquecer, mas abrir mão do apego; o apego de
pensar em como seria e lembrar do pouco que foi. É gostoso o apego a essas
lembranças poucas e às centenas de
fagulhas de vivências que nunca existiram, mas são vivas, pois falam, cheiram
bem e dão sensação de aconchego, pirilampando num universo fictício que gravita
dentro da mente criativa e romântica da gente. Não é amor, é apego. É parecido,
mas amor é real, é preciso ser experimentado, comprovado empiricamente. O apego
é a vontade do amor. A vontade grande que ele exista e se faça material
concreto. É o pré-amor, pode-se assim dizer, eu acho. Por isso é fácil esquecer
o que não foi e difícil desapegar. É difícil dizer ao pré-amor: “Mas você já
vai sem ter vindo? Eu tinha tantos planos pra você!”
Ahhh o apego! Esse “quase” amor que gravita em saltitância e
elegância, como astronauta fazendo de nossa cabeça solo lunar. Passeia por
entre nossos arquivos cerebrais, remexendo e perfumando as gavetas mais sérias,
como nossa rotina profissional, com nossos afazeres diários organizados em
ordem alfabética ou por ordem de exibição. As seis gotas de homeopatia pela
manhã, a alimentação equilibrada, os exercícios pontuados da semana, o horário
de início e fim do expediente, as idas e vindas pelas ruas, a cobrança pelos
dois capítulos do livro por dia antes de dormir, a oração que precede o fechar
dos olhos já com a mente leve no travesseiro. Ahhh, apego! Como é ruim
deixar-te ir, sendo pré-amor do que não foi e poderia ter sido. Não acredito em
reencarnação, mas se ela existir, na próxima prefiro vir nascida em janeiro
para ser mais razão e menos coração. Prefiro vir em junho, para não ser tão
fiel e persistente. Prefiro vir em
novembro para ser quase só carnal. Em outubro não quero vir mais. Os
nascidos em outubro têm por meta comprovar o amor e abraçá-lo. É
fantástico, mas cansa por todas as vidas.
4 comentários:
puxa, não sabia dessa de quem nasce em janeiro. É.. às vezes eu queria ser menos racional e cético com as coisas.
complicado desapegar do que pouco ou quase nao existiu...cabecas pensantes e falantes que se entrosaram tao bem mas que nao se cansariam por todas as vidas
êêêê Anônimo! Toda pessoa com seu nome é metida. Quem disse que esse texto tem a ver com vc? E vc? feliz com suas cabeças pensantes?
caraca...nao achei qtivesse a ver, apenas comentei. de qualquer forma, curti(e curto) o q vc escreve. bjs
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