14.1.13

Página virada


Antigamente a gente escrevia na calçada com tijolo de construção. No geral, escrevíamos nossos próprios nomes entre florzinhas e casinhas e as casas pra jogar Amarelinha. Quando estávamos com a melhor amiga também podíamos escrever o nome do menino que a gente gostava com corações flechados. Ah! E estes, só estes eram riscados com força antes de deixarmos a calçada quando a mãe chamava pra ir tomar banho, para que ninguém que também fosse se sentar e desenhar ali descobrisse.

Escrever com tijolo na calçada é fácil, mas riscar o nome até ficar ilegível nem tanto. Lembro como se fosse hoje da mão amarelada da gente, seca e com machucadinhos do nosso tijolo-giz. Por conta disso, eu e uma amiga escolhemos um pedaço de calçada sem muita visibilidade para escrevermos os nomes (em código, pra garantir) dos meninos que gostávamos e não precisarmos riscar. Assim, no dia seguinte, podíamos ficar ali, só decorando com florzinhas e corações enquanto falávamos sobre nossos amores, na maioria, impossíveis.

Quando desapaixonávamos e resolvíamos “virar a página”, aí sim, a gente riscava com força, definitivamente. Lembro da minha coluna de nomes em código rabiscados na calçada somando três ou quatro e a da minha amiga com pelo menos o dobro de nomes! Éramos crianças, mas quando virávamos a página era de verdade, pra mim pelo menos era. Mas o tijolo riscado sempre nos fazia lembrar quem esteve escrito com amor ali e, às vezes, minha amiga me ‘apoquentava’ e era obrigada a relembrar da listinha dela…

O tempo passou e o “virar a página” mudou. Agora, a gente pára de fuçar o perfil no Facebook, de puxar papo por mensaginha inbox, de mandar sms e email. É interessante perceber a evolução do “virar a página” e da gente. Hoje, mais madura, tenho dó de virar, fiquei mais teimosa. Sempre quero adiar, pois dou mais valor pros nomes da listinha, mas como quando criança, quando acontece é pra valer. Decidida a virar a página, o nome é riscado bem forte. “Menina que não rabisca os nomes não correspondidos bem forte é menina boba”, como bem me ensinou minha vizinha mais velha, da casa de cima da minha, quando então, com 13 anos, sabia bem mais sobre o amor que eu e minha amiga de 9.

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Ah! E esse som combina tanto! Gosto muito.

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