27.2.08

lembrando da morte.

Não é sempre, mas quando recebo uma notícia de morte lembro do meu avô. E lembro do meu amigo Maneco. Um morreu velho, mas com coração jovem. O outro era jovem e tinha um coração de moleque. Nenhum dos dois deveria ter ido a meu ver, mas o julgamento não passou por mim, claro.

Neste final de semana faz três anos que o segundo se foi. Menos de uma semana antes da morte, meu amigo me dizia estar apaixonado e que felizmente tinha encontrado uma pessoa especial. Também estava feliz profissionalmente e só se arrependia de trabalhar demais e não ter tempo para pedalar. Adorava trilhas de bike. Era gordinho, mas as panturrilhas seguravam a onda na hora das subidas do acidentado relevo da cidade onde morava. A última vez que o vi, antes da morte, estava no hospital e, por uma fresta do quarto, eu e mais duas xeretas vimos uma enfermeira chacoalhando sua cabeça para o comprimido descer garganta abaixo. Cena deprimente, cena que me fez chorar e rezar para que, se ficasse vivo, não tivesse que tomar remédios daquele jeito. Na verdade foi claro que já estava morto.

A última vez que vi meu avô vivo não me lembro. Faz tempo. Quando morreu já não estava vivo há pelo menos um ano e meio. Não lembrava mais de ninguém e, se lembrava, não tinha forças para dizer nada e nem para acenar ou gesticular qualquer coisa. Tinha escaras pelo corpo e parecia bem mais velho do que era. Quando era vivo, era muito vivo. Assobiava, cantava, contava piadas, adorava caminhadas e esporte. Quando o câncer e seus olhos verdes já estavam cinzas, foi um alívio. Deve ser assim pra todos os que ficam. A morte é implacável e também dói em quem gosta dos que estão morrendo.

E pior. Ela, do nada, nos lembra de sua soberana existência.

4 comentários:

Anônimo disse...

Thais
É triste , mas a única certeza que temos é que um dia estaremos ao lado de Deus, minha meta é chegar nos 85, com muita saúde , é claro, e chegarei ...
Seu pai.

Anônimo disse...

é, ao ler textos como esse, cada um lembra do seu próprio drama. O egoísmo que faz parte dos nossos genes não permite que encaremos a morte como passagem, mas sim como uma derrota. O certo é que o desfecho de todos deveria ser adormecer e não acordar no dia seguinte. É o que mais se aproxima de um fim digno, na minha concepção.

Anônimo disse...

É...três anos...ainda me lembro como se fosse ontem...choramos por uma semana....nossas idas ao hospital..essa "imagem" que vimos pela fresta da porta da UTI...marcante, triste...
Também me recordo da sua homenagem, lembra? Até hoje quando ouço "Dias Melhores" penso nele! E tenho certeza que ele nos observa e nos protege!
Deixo aqui um bjo especial para um amigo mais especial ainda!
Outro pra vc querida! (neste momento meus olhos estão cheios de lágrimas)...
Camila

Unknown disse...

Camilinha... vc entrou e viu aqui... estava comigo lá aquele dia, fogo... Putz, como disse o Fabinho, nosso egoísmo não nos permite ver a morte como ela é. E mais, nosso limite de entendimento é muito pequeno para entendermos o que ela é, nos resta chorar baixinho e deixar passar. Nos resta também viver bem! beijos

Fabinho, é isso... tds deveriam morrer dormindo... digno, sóbrio, pacífico.

Pai, se abdicar de comer coisas gostosas como doces, gorduras e ser light pra sempre é garantia de 85 anos com saúde, acho que vou durar até, no máximo, 65! E consciente disso! rssss

beijos!