8.6.09

O que é o amor? (a mosquinha de banana)





Semana do Dia dos Namorados e a pergunta, que há séculos alguém tenta responder, paira no ar como aquela mosquinha de banana chata que sobrevoa a mesa de frutas. Você tenta matar, tenta se livrar dela e não consegue. E quando consegue, outra igualzinha aparece. A multiplicação inexplicável te põe no meio de umas 20 mosquinhas de banana. Não dá pra fugir.

Eu já achei que amor fosse algo infinito e igual à sensação do primeiro beijo. Tinha que ser sempre de arrepiar, de tirar do chão, de fazer a cabeça ficar leve e o coração batendo aconchegado, mas rápido, intenso. Eu deveria ter uns 11 anos.

Depois, achei que amor fosse algo infinito enquanto durasse, como na música. Tinha tudo a ver, pois nessa época achei que amor fosse música e os apaixonados tivessem “todo tempo do mundo”, também como na música. Aí, um dia, a música enjoava, cansava, saia de moda. O amor foi infinito enquanto durou. Eu tinha 15 anos quando achava que o amor era isso e queria ter vários amores. Tive.

Depois, achei que amor fosse algo infinito e finito ao mesmo tempo. Explico: na memória da gente ele seria finito, como música da estação, enquanto durasse, mas ficava o registro da sua existência numa gavetinha. Ou seja, por mais que outros viessem ocupar o coração, e outros sucedessem, depois todos iriam pro arquivo. E eu teria amor pra cada fase, pra cada tempo, na gaveta, mas com uma fagulhinha aquecendo o arredor. Na velhice, olharia pro último amor que tive, também velhinho ao meu lado, e agradeceria por ele estar ali. Os outros, fagulhinhas engavetadas, mas bem vivas, seriam lembrados com carinho. Eu tinha 20 anos e não conseguia esquecer um amor que teimava em me bater à porta e estragar outros amores. Percebi que não era amor, era doença, e fiquei um tempo sem uma nova teoria, mais um tempo com uma mosquinha de banana.

Quando tinha entre 25 e 26 anos, fui atropelada por uma teoria nova. Amor era aquilo que estava sentindo, amor era aquela montanha-russa gostosa, mas que num piscar de olhos virava um gira-gira de carrossel com algodão doce. Era vai e vem de volúpia e calmaria. Coloquei pedrinhas de brilhantes para o meu amor passar, mas o amor era de vidro e se quebrou. E eu pensei: “Se era amor, como era de vidro?”. É porque não era.

Aos 27 anos, já desacreditada, passei a andar com um inseticida. Matava qualquer mosquinha que via e matava e matava, sem dó, bem rápido ia apertando a tampinha do aerozol, para evitar a multiplicação. Óbvio que as mosquinhas se tornaram resistentes e um belo dia encontrei o amor sem perceber. Descobri que o amor é muito mais simples que todas as teorias anteriores e todas as teorias de amigos e conhecidos, e de desconhecidos também. Amor não é significante e significado, mas impossível colocar uma sentença ao lado dos dois pontos no dicionário. Amor simplesmente é. Mas não estava satisfeita. Como assim, é???

Até que, enfim, consegui minha teoria resolutiva. Acho que as anteriores me ajudaram a descobri-la, pois tendo conhecido cada uma delas sei que são fraudes. Amor é um pouco de todas, mas sua característica maior é que adormece para ser acordado. O amor é algo que quando chega e te escolhe, entra nas veias, e o sangue vai levando-o a todas as partes do corpo. Enquanto a música toca, ele vibra e se faz presente. Quando o filme passa, ele se identifica e se mostra ali, mas quando o tempo passa rápido demais, a rotina cansa e ele adormece, é preciso uma narcose por nitrogênio. Amor é mistura de gazes.

Amor é a dúvida do será que é e, de uma hora pra outra, você perceber que a resposta é ‘’óbvio que sim”. Talvez seja por isso que para amar de verdade é preciso testar teorias malucas, como num laboratório de química, onde depois de anos misturando soluções, uma explode com tudo e quebra todas as anteriores, te fazendo perceber em todo o tempo de pesquisa, você sempre foi uma porcaria de um alquimista bobo. Porque o amor não era a mistura de soluções, mas a explosão em conseqüência. E isso, não dependeu do seu acerto, mas do seu erro.

Depois da explosão o gás invade todo o recinto. No começo é novidade e todos se acostumam com ele, o respiram sem perceber. Como o oxigênio, não é preciso vê-lo para saber se existe e está sempre ali te suprindo. Quando essa comodidade se faz presente, a gente sente falta da explosão, pois foi com ela que o conhecemos. Aí, parece que ele morreu. Mas está ali, e é por isso que disse ser necessária uma narcose de nitrogênio. Essa narcose pode ser um chute no balde, uma conversa com palavras baixas, um silêncio absoluto, uma viagem estranha, uma corrida pelado na rua, uma rodada de tequila seguida por mais umas três ou quatro. Depois da narcose, você dá uma chacoalhada e o amor acorda.

Essa minha teoria absoluta acabou sábado. E agora eu não tenho mais teoria nenhuma. “O que é o amor?”, a mosquinha de banana dormiu comigo, tomou banho, café, almoçou, fez diversas coisas durante o domingo e hoje veio trabalhar comigo. No meio dessa divagação gigante que virou o post ela me disse no linguajar das moscas de banana que o amor é quando é pra dois, se não é dor. Acho que ela andou lendo Martha Medeiros. Mas tem razão. Amava meu avô e quando ele morreu e eu não tive mais reciprocidade, virou dor. Então, agora, me apego a esta teoria... amor é quando é pra dois, e se não for, nunca foi, é dor camuflada. Era só uma fraude. E fraudes, quando adormecem não têm mais como ser acordadas. Amor adormece, fraude recebe injeção letal. Ou vai ver, amor é só Roma ou romã ao contrário. E ponto.

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(Imagem encontrada via Google (claro!)em: http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/poucaspalavras)

3 comentários:

Anônimo disse...

BRILHANTE!!!!!!!!!

Talvez Drumond simplifique um pouco a teoria: “A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida esta no amor que não damos.”

Beijo Thais

Cláudio Maia

Unknown disse...

Obrigada Cláudio! Como estão as coisas por aí? Mande notícias! Muitas mudanças?

E porque a gente escreve melhor quando o tema não né alegria e felicidade incondicional?

bjos!

Noise disse...

Nietzche era um mala dos infernos, de fazer aquele personagem do Jack Nicholson de Melhor Impossível parecer o Marcelo Taz de tão legal, mas era um romântico inveterado, veja esse texto dele
http://bit.ly/Jx73c

Bjss