8.8.07

Conselhos


Pega o quebra-cabeça que está montado há anos e pendurado naquele quarto escuro cheio de entulho e desmonta. Aproveita e tira o castelinho de Lego daquela caixa, desmonta também. Rasga todas as anotações antigas, que viraram regras naquele caderninho amarelado escrito com uma Bic que já estourou faz tempo. Pare de remendar antigas coisas, antigos porta-retratos, antigos álbuns, antigas fotografias que têm lugar especial, mas só no passado. Deixe-as em paz lá. Apague os rabiscos que fez com raiva naquela lousa verde, onde deveria ter só anotações do prato do dia de algum restaurante de esquina. Sabe aqueles pôsters pregados na parede? Faz dobraduras ou recorta menininhas de mãos dadas com eles. Renova os sonhos.

Compra pelo menos novos cadarços para seu tênis da sorte, que não sai do armário; e troca as camisetas lisas brancas e pretas por outras mais alvas e menos desbotadas, respectivamente, claro. Abre a geladeira e limpa. Pega aqueles restos de comida e joga fora, faz mal. Termina o suco que está no fim, o iogurte que está vencendo, a manteiga que está rançando. Joga fora a pasta de dente que já está dura na bisnaga e compra uma escova mais macia e de melhor qualidade. Tem que ter boa empunhadura e limpar bem não só os dentes da frente, sem retrair as gengivas, mas também os lá do fundo.

Tira um pouco a roupa, fica descalço. Usa mais cremes para hidratar a pele e poder sair sem medo do sol ou do vento. Bebe mais água e encara a chuva a céu aberto, mesmo com trovões. Brinca no chão com o cachorro e sorria pro espelho. Olha pelo buraco pelo olho mágico sem medo, pelo da fechadura sem sentir-se culpado e nunca mais deixe aquele quarto escuro cheio de entulho de portas trancadas acumulando poeira. Mostre a todas as suas coisas seus devidos lugares.

5 comentários:

Anônimo disse...

Feliz Ano Novo...

Unknown disse...

Boa, Fábio!
Ou começa logo esse regime na segunda-feira :)

Anônimo disse...

Thais
Viver relembrando o passado só serve como estória, o importante é o presente, liberte-se e viva intensamente ...
Seu pai, Paulo

Anônimo disse...

Eu tenho praticado tudo isso com intensidade, e sobre os sonhos a minha posição é diferente.

Explico.

Nos meus velhos - não tão velhos assim... - diálogos de silêncios e de palavras, converso com uma amiga que me pergunta quais são os meus sonhos. Eu dou uma resposta inteligente, mas não tanto, não como a que ela me dá ao interpelá-la com a mesma questão: "E você, menina, me diga, quais os seus sonhos, ou o seu sonho?". Ela pensa um pouco. Olha para mim. Sorri. Desfaz o sorriso, e diz: "O meu sonho é sonhar sem sonhos". Acho uma resposta bonita e não penso de imediato na inteligência e na sua profundidade, mas ela me perfura aos poucos e percebo: sonhar sem sonhos é essencial. Sonhar sem sonhos

Abraços

(volto depois, com tempo, para ler as postagens anteriores - pelo visto são coisas boas também, hein?)

Unknown disse...

Pai, nem sempre escrevo coisas que refletem imediatamente algo 100% meu...

Calebe, bonito mesmo... e necessário um tempo para refletir, digerir e compreender.
Visitarei seu blog, obrigada por passar por aqui!