22.5.07

A menina da roda gigante



Você já viu criança quando chega pela primeira vez em um parque de diversões? Os olhos brilham e sorriem junto com os lábios. O corpo inteiro parece estar feliz e louco para sair correndo para experimentar o primeiro brinquedo. Na fila, a ansiedade de chegar logo a sua vez movimenta as pernas e os braços. Aí, quando sobe na roda-gigante e vê todo o parque de cima, os olhos ficam ainda mais brilhantes. Quando desce, se prepara para o próximo brinquedo, e depois para o próximo, e depois para o outro. Sempre com a mesma euforia. Em outra ida ao mesmo parque parece que é a primeira. E assim todas as vezes. Essa criança sabe que cada novo brinquedo dará uma sensação diferente daquela que já sentiu antes, porque o dia é diferente, as pessoas que a acompanham são outras e o sorvete vai derreter mais ou menos que das outras vezes. Por isso ela sempre se prepara para a ocasião e sempre chega com os olhos brilhando e sorrindo acompanhando os lábios.

É assim que a minha amiga Thamara vive a vida, como uma criança que adora ir toda semana ao mesmo parque de diversões e sente tudo de uma forma diferente. Se cada um de nós tem um pouco de infância ainda nas veias, a Thamara tem um pouco mais, e esse pouco corre ao lado de suas porções mulher e maluca, que fazem dela uma pessoa tão especial. Todos os dias que dividimos o mesmo ambiente de trabalho ela chegava com um brilho especial nos olhos pequenos que sorriam acompanhando os lábios. Do corredor, o barulho dos colares grandes e do salto alto avisavam que ela logo apontaria na sala e daria o “bom dia” animado, seguido do tirar da bolsa do corpo para friccionar as mãozinhas num gesto de “Vamos lá, mãos a obra! Oba!”. Os dias passavam rápido ou devagar, pois isso não dependia dela, mas sempre muito divertidos e bem amparados pela certeza de que uma pessoa boa estava ali, disposta a ajudar, ensinar, quebrar-galho e também fofocar pequenas maldades.

A mulher-criança Thamara é meio maluca, como já disse. Os cabelos cacheados balançam, perfumam e dão a ela uma beleza única. Os olhos pequenos sorriem acompanhando os lábios finos e faladores. As palavras ditas fazem rir, chorar, preocupar e até embaralham a gente. O repertório musical é farto no sertanejo, coisa de quem não tem medo de mato, nem de bicho e nem de mau tempo. Ela é maluca e encanta pela simplicidade de sua alma nenhum pouco egoísta, mas que se divide e compartilha felicidades e tristezas.

Mas a Thamara não é só simplicidade não. É uma mulher-criança-maluca meio perua também e cheia de glamour. Adora uma moda, uma loja de roupa e sapatos novos. Aonde vai, onde pisa, mesmo insegura, pisa com força para deixar a marca do pé. Risada alta e bêbada gira... uma pessoa realmente cativante e marcante onde quer que vá. Agora, desafiando novos terrenos, ela deixa todos um pouco “menos”. Menos felizes, menos animados, menos tranqüilos, menos completos. Leva de cada um, um pouco de saudade, de amizade e de histórias tão bobas quanto rotineiras, aquelas que de tão tolas nos fazem lembrar e rir sozinhos pelo resto da vida.

Mais uma vez ela sobe na roda-gigante e vê uma imensidão de oportunidades para brincar. Desce, segue para outra fila e nos deixa com o coração molengolato, mas leva os olhos pequenos sorrindo junto com os lábios para alegrar outras pessoas. A nós que ficamos, restam visitas e encontros neste grande parque de diversões que dividimos. O bom é saber que entre um brinquedo e outro pudemos observar o parque do alto da roda-gigante junto com ela. E isso, certamente, fez uma grande diferença.

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Este texto é de 2005 e também atemporal.

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