8.11.07

Breve triste conto sobre a Juju chata

Seu nome era Julieta, mas o apelido era Juju. Detestava as piadas que faziam referência à amada de Romeu. Seu nome era um problema e isso interferia no relacionamento. Os pretendentes inventavam apelidos carinhosos e acabava sendo pior. O primeiro a chamava de “sereia”; ela o mandou pra cucuia. O segundo de “Jujusão”, no começo achava legal, depois começou a se irritar com o aumentativo e deu uma desculpa qualquer para terminar. O terceiro, logo que usou o clichê piegas e cafona “minha princesa”, ficou no vácuo e nunca mais ouviu falar dela. O quarto, mais esperto, perguntou antes: “Jujuzinha? Jujuba? Jugi? Pequena? Lindinha? Fofa?”. Ela o achou interrogativo demais e desencanou. Depois do primeiro encontro, o quinto a olhou nos olhos, envolveu seu corpo num abraço feito com o corpo todo, a beijou e disse: “até mais, minha vida”. Ela estremeceu. As bochechas rosaram. O coração acelerou e seus pés saíram do chão. Ela quis confirmar: “você me chamou de quê?”. Ele repetiu “de minha vida”. Pronto. Era ele, o quinto elemento. Dia seguinte esperou a ligação e nada. No outro dia também. E no outro, e no outro. E no outro, e assim foi. Ela levou a sério, entregou a vida a ele, ficou sem e aguarda que ele devolva. Mas o rapaz anda roubando mais algumas por aí e não prometeu voltar. As vizinhas dão risada e gritam em coro: "bem feito, Juju chata!"

3 comentários:

Anônimo disse...

que belo mini conto. Inocente na medida certa. Os apelidos carinhosos num realcionamento dão bastante pano para uma crônica. Beijos, Tha

Unknown disse...

puxa, Fábio, quando escrevi quis dar um "Q" de inocência, mas achei que não tinha conseguido. Valeu, bjinhos

Anônimo disse...

Lembrei da jubaçã...