16.4.07

Frágil instinto materno

Ela adorava ser mãe. Acordava e ia logo bem cedo carregar a menininha no colo, com roupinha cor-de-rosa e meias pequeninas combinando. Está certo que ela não levava muito jeito para a coisa – inexperiência, claro – mas não era de forma alguma um problema.

O bebê mamava na mamadeira de manhã e a mãe ia para a escola. O pai, ninguém sabia quem era. Talvez um tio querido, um primo da mesma idade ou um colega, um vizinho, alguém do colégio. Às vezes, a mãe ia tomar banho e queria levar a bebê junto. Não era possível, cada coisa de uma vez. Então, ela cuidava dela e da menininha, sempre de cor-de-rosa, depois. Mais mamadeiras, mais paparicos. Ela queria que o bebê falasse logo, e dissesse “mamãe” ou algum derivado como “mamã”, “mã”, até mesmo um som indefinível como “mmmm” já seria satisfatório... mas a pequena era silenciosa.

A mãe também queria ver logo o bebê andando. Mas era difícil. Ela segurava nas mãozinhas e tentava fazer com que a menininha de cor-de-rosa firmasse as pernas no chão, em cima da cama ou no sofá. Mas nada. Ela não falava e nem andava. Mas não era de forma alguma um problema.

Um dia a mãe resolveu ir para o shopping com o bebê. Aficionada pelas vitrines, acabou deixando a pequena de roupinha cor-de-rosa em um banco qualquer. Quando se deu conta, minutos depois, ficou enlouquecida e pôs-se a chorar. Onde aquela menininha indefesa estaria? Alguém já a teria encontrado? Seria possível tê-la de volta?

Foi aí que, depois de voltar por todo o caminho feito, o pai encontrou a bebê perto de uma sorveteria. Ela estava lá, dentro do vestidinho cor-de-rosa, mas faltando alguma coisa. A mãe viu, parou de chorar e disse: “Pai, compra outra? Levaram as meinhas”. O homem pegou a menina no colo, a mulher levou a boneca rejeitada. E seguiram para o estacionamento de volta para casa.

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